terça-feira, 10 de junho de 2008

Torga e Camões III


Macau, 10 de Junho de 1987

Na Gruta de Camões


Tinhas de ser assim:

O primeiro

Encoberto

Da nação.

Tudo ser bruma em ti

E claridade.

O berço,

A vida,

O rastro

E a própria sepultura.

Presente

E ausente

Em cada conjuntura

Do teu destino.

Poeta universal

De Portugal

E homem clandestino.


Miguel Torga in Diário XV, 1990

Torga e Camões II

Coimbra, 11 de Janeiro de 1980

Lápide


Luís Vaz de Camões.

Poeta infortunado e tutelar.

Fez o milagre de ressuscitar

A Pátria em que nasceu.

Quando, vidente, a viu

A caminho da negra sepultura,

Num poema de amor e de aventura

Deu-lhe a vida

Perdida.

E agora,

Nesta segunda hora

De vil tristeza,

Imortal,

É ele ainda a única certeza

De Portugal.


Miguel Torga in Diário XIII

Torga e Camões

Camões


Nem tenho versos, cedro desmedido

Da pequena floresta portuguesa!

Nem tenho versos, de tão comovido

Que fico a olhar de longe tal grandeza.



Quem te pode cantar, depois do Canto

Que deste à pátria, que to não merece?

O sol da inspiração que acendo e que levanto

Chega aos teus pés e como que arrefece.



Chamar-te génio é justo, mas é pouco.

Chamar-te herói, é dar-te um só poder.

Poeta dum império que era louco,

Foste louco a cantar e louco a combater.



Sirva, pois, de poema este respeito

Que te devo e professo,

Única nau de sonho insatisfeito

Que não teve regresso!


Miguel Torga in Poemas Ibéricos, 1965

Bocage e Camões

Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co' o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.

Sextina camoniana




Foge-me pouco a pouco a curta vida,
– se por caso é verdade que inda vivo – ;
vai-se-me o breve tempo d’ante os olhos;
choro pelo passado em quanto falo,
se me passam os dias passo a passo,
vai-se-me enfim a idade, e fica a pena.

Que maneira tão áspera de pena!
Que nunca uma hora viu tão longa vida
em que possa do mal mover-se um passo!
Que mais me monta ser morto que vivo?
Para que choro, enfim? Para que falo,
se lograr-me não pude de meus olhos?

Ó fermosos, gentis e claros olhos,
cuja ausência me move a tanta pena,
quanta se não compreende em quanto falo!
Se, no fim de tão longa e curta vida,
de vós m’inda inflamasse o raio vivo,
por bem teria tudo quanto passo.

Mas bem sei que primeiro o extremo passo
me há-de vir a cerrar os tristes olhos
que Amor me mostre aqueles por que vivo.
Testemunhas serão a tinta e pena,
que escreveram de tão molesta vida
o menos que passei, e o mais que falo.

Oh! Que não sei que escrevo, nem que falo!
Que se de um pensamento noutro passo,
vejo tão triste género de vida
que, se lhe não valerem tanto os olhos,
não posso imaginar qual seja a pena
que traslade esta pena com que vivo.

Na alma tenho contino um fogo vivo,
que, se não respirasse no que falo,
estaria já feita cinza a pena;
mas, sobre a maior dor que sofro e passo
me temperam as lágrimas dos olhos,
com que, fugindo, não se acaba a vida.

Morrendo estou na vida, e em morte vivo;
vejo sem olhos e sem língua falo;
e juntamente passo glória e pena.

Amor é um fogo que arde sem se ver




Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter, com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Afinal o nosso Ministério da Educação é profético, sábio e vanguardista

Aprovação de directiva comunitária
Ministros europeus chegam a acordo para prolongar semana de trabalho até às 65 horas
10.06.2008 - 11h25

epois de quatro anos de negociações, os ministros europeus aprovaram hoje a Directiva do Tempo de Trabalho, chegando a acordo sobre a possibilidade de prolongar a semana de trabalho das actuais 48 horas até às 65 horas, se assim o entenderem o funcionário e a empresa. O documento ainda tem de ser votado no Parlamento Europeu.

A directiva, cuja aprovação ficou marcada pela abstenção de cinco países, fixa a semana de trabalho na União Europeia num máximo de 48 horas. Em Portugal vigora um máximo de 40 horas. No entanto, é permitido que este máximo possa ser alargado até às 65 horas.

Este documento não abrange os contratos com menos de dez semanas de duração.

A Comissão Europeia já saudou o acordo político. “Este é um grande passo em frente para os trabalhadores europeus e reforça o diálogo social. Mostra, mais uma vez, que a flexisegurança pode ser posta em prática”, comentou o comissário europeu para o Emprego, Vladimir Spidla.


in Público on-line - ler notícia

Música alusiva à data...

Valsinha das Medalhas - Rui Veloso
(letra Rui Veloso e Carlos Tê, música Rui Veloso)


Valsinha das Medalhas - Rui Veloso



Já chegou o dez de Junho, o dia da minha raça
Tocam cornetas na rua, brilham medalhas na praça
Rolam já as merendas, na toalha da parada
Para depois das comendas, e Ordens de Torre e Espada
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha


REFRÃO
Encosta o teu peito ao meu, sente a comoção e chora
Ergue o olhar para o céu, que a gente não se vai embora
Quem és tu donde vens, conta-nos lá os teus feitos
Que eu nunca vi pátria assim, pequena e com tantos peitos


Já chegou o dez de Junho, há cerimónia na praça
Há colchas nos varandins, é a Guarda d'Honra que passa
Desfilam entre grinaldas, velhos heróis d'alfinete
Trazem debaixo das fraldas, mais Índias de gabinete
Na tribuna do galarim, entre veludo e cetim
Toca a banda da marinha, e o povo canta a valsinha

Dia de Portugal - outra poesia

O Meu Pior Poema

...

Tá, tátátáaa! Tátátá, tátátáaaa!
Trrrrum! Trrrrum!
Trrrrum! Trrrrum!
Prrrpum! Prrrpum!
Tá, tátátá! Tarari, tátátáaaa!
Tá! Tátá! Tátá, tátá, tátá!
Trrrrrrum!!
Trrrrrr... rum! Trrrrrrr... rum!
Trrrr... rum! Trrrrr... rum!
Trrr... rum! Trrr... rum!
Trrrr... pum!!

...

Click! Click! Click!
Foooogo!!
BUUUUUMM!!!

(Chegaram.
Viram.
Mataram.
Ah! Valorosos!
A Pátria vos saúda!)


in Sonhos Salgados, Adelino, 1997

Dia de Portugal - António Gedeão



Poema da Alfarrobeira



Era Maio, e havia flores vermelhas e amarelas

nos campos de Alfarrobeira.



O homem,

de burel grosso e barba de seis dias,

arrastava os tamancos e o cansaço.

Ao lado iam seguindo os bois puxando o carro,

naquele morosíssimo compasso

que engole o tempo ruminando o espaço.



Era um velho mas tinha a voz sonora

e com ela incitava os bois em andamento,

voz cantada que os ecos prolongavam

indefinidamente.

Era um deus soberano e maltrapilho

a cuja imperiosa voz aquelas massas

de carne musculada

maciça, rude, bruta, inamovível,

obedeciam mansas e seguiam

no sulco aberto

como se um pulso alado as dirigisse,

mornas e sonolentas.



A voz era a de um deus que os mundos cria,

que do nada faz tudo,

que vence a inércia e anula a gravidade,

que levita o que pesa e o trata como leve.

Potência aliciadora alonga-se e prolonga-se

nos plainos da paisagem,

enquanto os animais prosseguem no caminho

do seu quotidiano,

pensativos e absortos.



Lá em baixo, na margem do ribeiro,

estendido sobre a erva,

jaz o infante.

Do seu coração ergue-se a haste de um virote

erecta como um junco,

e já nenhuma voz o acordará.



in Novos Poemas Póstumos – António Gedeão

Sessão Pública em Lisboa sobre Modelo de Avaliação dos Docentes

(clicar para aumentar)


No meu caso, já se sabe que não tenho as ideias mais populistas sobre o assunto, mas para isso é que servem os debates e discussões a sério. Para falar, ouvir, trocar ideias e nascer algo de novo e melhor, sempre que possível.


Post de Paulo Guinote no Blog A Educação do meu Umbigo

Zeca canta Fernando Pessoa


No comboio descendente - Zeca Afonso:



No comboio descendente
Vinha tudo à gargalhada.
Uns por verem rir os outros
E outros sem ser por nada
No comboio descendente
De Queluz à Cruz Quebrada...

No comboio descendente
Vinham todos à janela
Uns calados para os outros
E outros a dar-lhes trela
No comboio descendente
De Cruz Quebrada a Palmela...

No comboio descendente
Mas que grande reinação!
Uns dormindo, outros com sono,
E outros nem sim nem não
No comboio descendente
De Palmela a Portimão

Fernando Pessoa


NOTA: Post n.º 400 do nosso Blog...!

Dia de Portugal - Pablo Neruda III

II La Cítara Olvidada

Oh Portugal hermoso
cesta de fruta y flores,
emergesen la orilla plateada del océano,
en la espuma de Europa,
con la cítara de oro
que te dejó Camoens,
cantando con dulzura,
esparciendo en las bocas del Atlántico
tu tempestuoso olor de vinerías,
de azahares marinos,
tu luminosa luna entrecortada
por nubes y tormentas.

Pablo Neruda



Dia de Portugal - Pablo Neruda II

V La Lámpara Marina

Portugal, vuelve al mar, a tus navíos,
Portugal, vuelve al hombre, al marinero,
vuelve a la tierra tuya, a tu fragancia,
a tu razón libre en el viento,
de nuevoa la luz matutina
del clavel y la espuma.
Muéstranos tu tesoro,
tus hombres, tus mujeres.
No escondas más tu rostro
de embarcación valiente
puesta en las avanzadas de Océano.
Portugal, navegante,
descubridor de islas,
inventor de pimientas,
descubre el nuevo hombre,
las islas asombradas,
descubre el archipélago en el tiempo.
La súbita
aparición
del pan
sobre la mesa,
la aurora,
tú, descúbrela,
descubridor de auroras.
Cómo es esto?
Cómo puedes negarte
al ciclo de la luz tú que mostraste
caminos a los ciegos?
Tú, dulce y férreo y viejo,
angosto y ancho padre
del horizonte, cómo
puedes cerrar la puerta
a los nuevos racimos
y al viento con estrellas del Oriente?
Proa de Europa, busca
en la corriente
las olas ancestrales,
la marítima barba
de Camoens.
Rompe
las telaranãs
que cubren tu fragrante arboladura,
y entonces
a nosotros los hijos de tus hijos,
aquellos para quienes
descubriste la arena
hasta entonces oscura de la geografía deslumbrante,
muéstranos que tú puedes
atravesar de nuevo
el nuevo mar oscuro
y descubrir al hombre que ha nacido
en las islas más grandes de la tierra.
Navega, Portugal, la hora
llégó, levanta
tu estatura de proa
y entre las islas y los hombres vuelve
a ser camino.
En esta edad agrega
tu luz, vuelve a ser lámpara:
aprenderás de nuevo a ser estrella.

Pablo Neruda

Pablo_neruda_1

Dia de Portugal - Pablo Neruda


SAUDADE


Saudade
—¿Qué será?... yo no sé... lo he buscado
en unos diccionarios empolvados y antiguos
y en otros libros que no me han dado el significado
de esta dulce palabra de perfiles ambiguos.

Dicen que azules son las montañas como ella,
que en ella se oscurecen los amores lejanos,
y un noble y buen amigo mío (y de las estrellas)
la nombra en un temblor de trenzas y de manos.

Y hoy en Eça de Queiroz sin mirar la adivino,
su secreto se evade, su dulzura me obsede
como una mariposa de cuerpo extraño y fino
siempre lejos —¡tan lejos!— de mis tranquilas redes.

Saudade... Oiga, vecino, ¿sabe el significado
de esta palabra blanca que como un pez se evade?
No... Y me tiembla en la boca su temblor delicado...
Saudade...

in Crepusculario - LOS CREPÚSCULOS DE MARURI - Pablo Neruda

segunda-feira, 9 de junho de 2008

A Galiza canta Camões em homenagem a Zeca Afonso

Uxia - Verdes São Os Campos




Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Soneto de Camões cantado por José Mário Branco




Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades - José Mário Branco


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já foi coberto de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Dia de Camões e de Portugal

Camões e a tença


Irás ao paço. Irás pedir que a tença
Seja paga na data combinada.
Este país te mata lentamente
País que tu chamaste e não responde
País que tu nomeias e não nasce.

Em tua perdição se conjuraram
Calúnias desamor inveja ardente
E sempre os inimigos sobejaram
A quem ousou ser mais que a outra gente.

E aqueles que invocaste não te viram
Porque estavam curvados e dobrados
Pela paciência cuja mão de cinza
Tinha apagado os olhos no seu rosto.

Irás ao paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência.

Este país te mata lentamente.


Sophia de Mello Breyner Andresen, Grades (1970)

Portugal, país de poetas e poesia

Vamos hoje iniciar uma série de posts sobre poetas portugueses e a sua poesia, pois, na véspera do Dia de Portugal (somos o único país do Mundo que comemora o nascimento de um poeta - zarolho e tudo - como o seu maior cidadão...) e pouco antes de se comemorarem os 120 anos do nascimento de Fernando Pessoa (já no próximo dia de S.º António) há que celebrar as palavras e as ideias dos portugueses que se tornaram imortais... Pois se a euforia de uns tipos que fazem poesia com os pés (e a cabeça...) nos faz esquecer o quão fundo batemos enquanto nação, há que pegar na Poesia e recordar o que de facto interessa.




Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!


in Mensagem, Fernando Pessoa

domingo, 8 de junho de 2008

Eu sou o chefe, logo existo

Vivemos hoje (?) sob a síndrome da omnipotência do chefe, dos postulados das lideranças heróicas e messiânicas. Seria bom inverter o prisma. E considerar que o faz o chefe existir são os seus 'subordinados'. O novo modelo de gestão pode ser a experiência traumática dos chefes que pensam que existem por serem chefes.


Post de José Matias Alves in Blog terrear

Estudos e falácias

Ou estou redondamente enganado ou esta notícia do Educare é falsa na parte em destaque (porque nada no estudo permite chegar ao 'modelo português') - refira-se, a propósito que divulguei esse estudo -e muitos outros - há mais de um ano:

"(...) Cresce a importância dada aos processos de avaliação do desempenho docente nos sistemas educativos da América e da Europa como instrumento para promover a qualidade do ensino. Mas esta não é uma tendência comum a todos os países. Muitos estão a optar por sistemas de auto-avaliação interna em cada escola. "Uma estratégia mais eficaz para alcançar a melhoria do desempenho docente", reconhecem os autores do estudo "Avaliação do Desempenho e Carreira Profissional Docente", coordenado por Javier Murillo na UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Um trabalho de análise comparada entre 55 sistemas educativos da América e Europa, com foco na carreira dos docentes do Ensino Básico do sector público, que foi editado em Junho de 2007 e serviu de base à elaboração do modelo de avaliação docente que está a ser implementado pelo Ministério da Educação, em Portugal. (...)

Adenda: aliás só pode ser incorrecta a referência. Se o estudo foi editado em Junho de 2007, o sistema de avaliação português foi publicado em Janeiro de 2007. Mas não foi: o estudo foi editado em 2006, mas nem por isso legitima a afirmação. No link interno pode encontrar todas as referências.


Post de José Matias Alves in Blog terrear

FENPROF acusa: Governo abre a porta aos privados

À custa destas decisões políticas (sobre educação especial) do Governo e das medidas que as concretizam, abrem-se portas para negócios que não deveriam existir. Em Coimbra, por exemplo, já está a ser distribuído a pais e encarregados de educação um folheto em que se informa que abrirá um novo serviço - privado, claro - que dará apoio a crianças que não tendo qualquer deficit cognitivo, nem lesão sensorial ou neurológica, nem problema sociais ou familiares graves continua, apesar disso - acrescentam -, a ter problemas de aprendizagem.

Esse apoio, informam, será realizado através de psicólogos, professores, terapeutas da fala, técnicos de psicomotricidade, oftalmologistas, otorrinolaringologistas, fisiatras, posturologistas, médicos de oclusão e nutricionistas.

Informam, ainda, os pais que em Setembro a escola já terá definidos os apoios distribuídos, deixando implícito que os seus filhos ficarão excluídos, portanto, acrescentam, é importante começar já a pensar em preparar o apoio para a criança, em referência às que apresentam situações como as anteriormente descritas. Leia mais na Página Web da FENPROF.


Comentário

Há dias, conversando com um amigo acerca dos efeitos desta política, ele confidenciava-me: para o próximo ano lectivo, vou ter de fazer testes específicos para um aluno autista, um aluno invisual, um aluno com trissomia 21, dois alunos absentistas, quatro alunos com dificuldades de aprendizagem e, provavelmente, para mais cinco alunos com desempenho muito acima da média. E tudo isto sem os apoios especializados e adequados a esta diversidade de NEE! Não há quem aguente uma coisa destas!


Post de Ramiro Marques, in Blog ProfAvaliação

A polémica em torno da educação especial continua

O Secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, garantiu hoje que todas as crianças com necessidades especiais terão apoios, negando que o Ministério da Educação tenha estabelecido metas para o número de alunos a apoiar.

"Não há metas. Todas as crianças que estiverem sinalizadas nos apoios educativos terão apoio. O que interessa é o apoio que cada criança precisa relativamente à sua dificuldade e não o número total de crianças apoiadas. Serão todas as que precisarem de apoio", disse Valter Lemos.

O secretário de Estado da Educação falava aos jornalistas à margem de um encontro internacional sobre educação especial que juntou hoje em Lisboa 1700 especialistas, professores e técnicos portugueses e estrangeiros desta área.

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) estimou ontem que cerca de 60 por cento dos alunos com necessidades especiais deixarão de ter apoio já no próximo ano lectivo, na sequência das alterações legislativas introduzidas pelo Governo. Leia mais no Público Online.


Comentário

Valter Lemos não nega que vai haver crianças que deixarão de ter apoios especializados. Serão todas aquelas a quem, por aplicação da Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), forem consideradas como não estando em condições de ser abrangidas pelos apoios especializados. Se está tudo bem, por que razão há tantos pais, técnicos e especialistas que criticam a legislação recentemente aprovada? E por que razão as declarações de Valter Lemos provocaram gargalhada geral no auditório onde estava a decorrer a conferência sobre educação especial? O Ministério da Educação afirma que existem 49.877 alunos sinalizados nas escolas de ensino regular como tendo necessidades especiais, prevendo-se que após a aplicação da CIF o número de alunos sinalizados se situe nos 23 mil.


Post de Ramiro Marques, com sublinhado (negrito) nosso, in http://ramiromarques.blogspot.com/

Um ano passa depressa

"A grande manifestação de Lisboa atingiu uma dimensão surpreendente, mas o Governo despreza manifestações e números."
António Barreto, no Público

Sócrates está de partida. Já só falta um ano para o país se ver livre do homem que prometeu 150 mil empregos e, passados três anos, consegue atingir a marca dos 8% de desempregados. Do homem que, numa atitude inédita para primeiro-ministro, processou jornalistas e bloggers. Do homem que foi brando para com os poderosos e duro para com os fortes. Do homem que dirigiu o Governo que desfigurou a profissão docente, empobreceu os professores e tornou a profissão uma tarefa impossível. O Povo irá festejar a sua partida. Os professores terão razões a dobrar para participarem nos festejos. Daqui a um ano.


Post de Ramiro Marques, in http://ramiromarques.blogspot.com/

Olha, eu também financio os colégios privados!!!!

Às vezes dá jeito estar a par do que vai acontecendo:

http://www.dre.pt/pdf2sdip/2008/06/108000000/2508325101.pdf

Comentário meu:

Em todo o país há escolas públicas a fechar por, alegadamente, terem falta de alunos. As quotas na avaliação dos professores existem, informação já confirmada pelo senhor pedreira, por razões economicistas. Há escolas sem aquecimento, com instalações degradadas, sem funcionários suficientes, sem dinheiro às vezes para fotocópias e materiais de apoio. E tanto mais que podia acrescentar mas que qualquer pessoa minimamente atenta e que queira saber, sabe.

Por outro lado, temos os colégios privados. Que são, como é óbvio, uma opção válida numa economia de mercado e que se quer plural como parece ser aquela em que vivemos. Não vou aqui discutir a as vantagens e desvantagens dos mesmos, a selecção rigorosa de alunos que muitos deles fazem, as mensalidades altíssimas que cobram, a qualidade de alguns e a desonestidade de outros.

Aquilo que me deixou num estado de verdadeira estupefacção foi descobrir que os meus impostos também são utilizados para os financiar.

E pergunto-me: mas porque carga de água é que o MEU DINHEIRO serve para financiar o São João de Brito, ou o Planalto ou o Mira Rio que, para citar apenas alguns? Alguém me consegue explicar a lógica disto????

É nestes momentos que algumas das chamadas "teorias da conspiração" parecem fazer sentido... porque há muitos anos que, dentro do meio, se diz que deveria haver uma investigação rigorosa aos verdadeiros donos de muitos dos colégios que por aí existem. E que o que está por detrás de tudo isto é uma das verdadeiras causas da sistemática destruição do ensino público...

E talvez também não seja de analisar muito bem porque é que as escolas públicas estão a ser completamente invadidas por cursos profissionais em detrimento do número de turmas de carácter geral. Dentro de muito pouco tempo, as escolas públicas estarão transformadas em enormes escolas técnico-profissionais. Adivinhem então para onde teremos que enviar os alunos que têm aspirações a entrar no ensino superior?

Pois....


Post roubado daqui...

Petição contra a Prova de Ingresso em Plenário da Assembleia da República

A Petição Contra a Prova de Ingresso na Carreira Docente, apresentada pelo Movimento Democracia e apoiada pelo Sindep, foi hoje, dia 6, discutida em plenário na Assembleia da República. Os signatários solicitavam a tomada de medidas contra a prova de ingresso na carreira docente, nomeadamente a reformulação do artigo 20º do Decreto Regulamentar nº 3/2008, de 21 de Janeiro, com inclusão da prova nos próprios cursos via ensino, como requisito de inclusão da licenciatura e a não aplicação da mesma a docentes já profissionalizados.

Os grupos parlamentares, PS incluído, mostraram mais uma vez sensibilidade para esta questão, admitindo a injustiça da retroactividade da prova de ingresso. O grupo parlamentar do PS, pela segunda vez, mostrou publicamente a abertura para resolver esta questão. Na sequência desta discussão, foi apresentado pelo grupo parlamentar do PSD uma proposta de resolução que recomenda ao Governo a alteração das normas que regulam a dispensa da realização da prova de avaliação de conhecimentos e competências, prevista no artigo 22.º do Estatuto da Carreira dos Educadores de Infância e dos Professores dos Ensinos Básico e Secundário. (ver aqui - fazer o download na página do parlamento)

Esta proposta de resolução aguarda agendamento para ser discutida e votada em plenário. Nessa altura, face à abertura mostrada publicamente pelo PS, temos esperança que seja votada positivamente pela maioria, ou seja, pelo PS. Se esta proposta for aprovada, o governo terá ainda de aceitar a proposta, visto uma proposta de resolução não ser vinculativa. No entanto é minha convicção de que, se o PS aprovar na Assembleia da República esta proposta, o governo a seguirá.

Só nos resta aguardar, sempre com consciência que continuaremos a lutar como temos feito até agora!


in Blog Movimento Democracia, post de 06.06.2008

E quando os senhores do costume recusarem de certeza que este órgão se demite...

CNE pede mais avaliação


O Conselho Nacional de Educação desaconselha ligar os resultados da avaliação das escolas a punições ou prémios aos agentes, designadamente a atribuição de escalões mais elevados na avaliação de professores e de quotas de professores titulares.

No relatório entregue a semana passada à ministra da tutela, o CNE defende também que celebrar contratos de autonomia com as escolas é a "condição básica" para pôr em prática a avaliação das mesmas. "Em consequência da avaliação não se devem penalizar as escolas que mais precisam dessa autonomia para melhorarem os níveis de desempenho e aprendizagem", lê-se no texto. Outra das recomendações prende-se com as consequências da avaliação: "Reconhece-se que não tem havido acompanhamento depois da entrega do relatório", lê-se no parecer, (...) e "recomenda-se uma atenção particular para esta fase, definindo estratégias e soluções coerentes com os objectivos do sistema". Por outro lado, o CNE alerta para a necessidade de "os avaliadores terem preparação e formação específica", já que "o 'item' da formação dos avaliadores foi dos que mereceram mais menções discordantes quanto à adequação ao exercício da actividade". A avaliação externa das escolas vai continuar no país em mais 290 escolas no ano lectivo de 2008/09, tendo já sido avaliadas 397 desde o início do processo em 2006.


in JN on-line - ler notícia

É curioso - ou talvez não?!?

Interessante peça no Público de hoje sobre a implementação do Estatuto do Aluno (sem link permanente). Por um lado a constatação óbvia que a nova legislação não resolve nada de essencial quanto ao absentismo; por outro que cada escola deve, se a autonomia é para levar a sério, procurar os seus mecanismos específicos para lidar com a falta de assiduidade dos alunos; por fim que o Conselho de Escolas vai estudar a situação. Só não fica bem claro com que objectivos: se para conhecimento das soluções encontradas, se para fazer recomendações.

Como apreciação, apenas acrescentaria que se a retórica da autonomia é para concretizar, então ninguém se deve queixar muito de - apesar do espartilho legislativo - existirem escolas como aquela não claramente identificada na notícia, que pura e simplesmente deixou de aplicar este ano a medida de marcação de faltas.


in Blog A Educação do meu Umbigo, post de Paulo Guinote

Valter Lemos dixit...

Secretário de Estado nega que ministério tenha estabelecido limites
Valter Lemos garante que todas as crianças que necessitem terão apoio especial
07.06.2008 - 15h04 Lusa

O secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, garantiu hoje que todas as crianças com necessidades especiais terão apoios, negando que o Ministério da Educação tenha estabelecido metas para o número de alunos a apoiar.

"Não há metas. Todas as crianças que estiverem sinalizadas nos apoios educativos terão apoio. O que interessa é o apoio que cada criança precisa relativamente à sua dificuldade e não o número total de crianças apoiadas. Serão todas as que precisarem de apoio", disse Valter Lemos.

O secretário de Estado da Educação falava aos jornalistas à margem de um encontro internacional sobre educação especial que juntou hoje em Lisboa 1700 especialistas, professores e técnicos portugueses e estrangeiros desta área.

A Federação Nacional dos Professores (Fenprof) estimou ontem que cerca de 60 por cento dos alunos com necessidades especiais deixarão de ter apoio já no próximo ano lectivo, na sequência das alterações legislativas introduzidas pelo Governo.

Classificação internacional

No âmbito da reforma da Educação Especial, publicada em Janeiro, as crianças e jovens com direito a apoio passam a ser sinalizadas através da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), um instrumento da Organização Mundial de Saúde que tem levantado polémica.

Escusando-se a avançar quantos serão os alunos que contarão com apoios após a aplicação dos critérios de sinalização da CIF, Valter Lemos sublinhou que a CIF vem dar "maior consistência" à definição dos apoios para as crianças, lembrando que não existia em Portugal qualquer instrumento do género. O que, segundo o secretário de Estado, levava a situações como ter um professor de língua gestual numa turma de alunos só porque eram de etnia cigana.

Dados do Ministério da Educação dão conta da existência de 49.877 alunos sinalizados nas escolas de ensino regular como tendo necessidades especiais, prevendo-se que após a aplicação da CIF o número de alunos sinalizados se situe nos 23 mil. Durante a sua intervenção na sessão de abertura do encontro, o secretário de Estado lembrou a reforma que está a ser feita na educação especial, com medidas como a criação de quadros de educação especial nos agrupamentos e de estruturas de referência.

Valter Lemos manifestou ainda a convicção de que em 2013 haverá em Portugal "uma verdadeira escola inclusiva", uma afirmação que provocou uma gargalhada na plateia, constituída maioritariamente por docentes de educação especial. Aos jornalistas, Valter Lemos disse compreender a reacção dos professores, afirmando que ela é justificada pela história de falta de consistência nas reformas da educação em Portugal. "É a incredulidade normal de um país que se habituou a não ser consistente nas opções que faz. Percebo perfeitamente a reacção dos professores, percebo que haja alguma incredulidade quando se está habituado a tanta inconsistência", disse, e acrescentou que revela "desconfiança em relação à história das reformas da educação em Portugal" e não às políticas deste Governo.


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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Poema

Dies Irae

Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora.
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! maldição do tempo em que vivemos,
Sepultura de grades cinzeladas,
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!


Miguel Torga

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Excelente oportunidade para estar calado

Segundo Jorge Pedreira, "se todos puderem ser excelentes, o que está errado é a definição de excelência". Por esta ordem de ideias, se todos puderem vir a ser secretários de Estado adjuntos da Educação, o que está errado é a definição de secretário de Estado adjunto da Educação.


Uma pista para o senhor Jorge Pedreira: numa avaliação, um resultado obtem-se pela aplicação dum conjunto de critérios. Os critérios podem ser diversos mas se a sua aplicação a um grupo resulta que todas as pessoas tenham determinada avaliação, o problema não está nas pessoas mas sim nos critérios. Já agora, atribuição de quotas para resultados é artificial. Todas as pessoas podem ser excelentes no que fazem. O erro desta abordagem consiste na mistura dos conceitos de avaliação de desempenho com progressão na carreira. Dada a limitada existência de recursos, pode-se aceitar que a progressão na carreira seja limitada. Isto é uma discussão que tem lugar ao nível do orçamento. Outra coisa é a avaliação do trabalho produzido, a qual não pode ser condicionada para justificar o orçamento insuficiente para todos serem promovidos. Dizer a alguém que não pode ter um excelente na sua avaliação porque existe uma quota para excelentes, mesmo tendo o seu trabalho sido de facto excelente, é um convite para não atingir a excelência. É desmotivador. Mas, aparentemente, para se perceber isto não se pode ser secretário de Estado adjunto da Educação. Logo, lá está, se calhar o que está mesmo errado é a definição de secretário de Estado adjunto da Educação.

Post roubado ao Blog Fliscorno

Se todos os Secretários de Estado fossem avaliados, este Senhor levava Excelente +

Em resposta às acusações da Fenprof
Secretário de Estado adjunto da Educação: "Se todos puderem ser excelentes, o que está errado é a definição de excelência"

Se todos puderem ser excelentes, o que está errado é a definição de excelência, afirmou hoje o secretário de Estado adjunto da Educação, Jorge Pedreira, justificando a fixação de quotas para a avaliação dos docentes.

"Em qualquer grupo [profissional], se todos puderem ser excelentes o que está errado é a própria definição de excelência", disse Jorge Pedreira na abertura do seminário 'A escola face à diversidade: percepções, práticas e perspectivas' que decorre hoje no Conselho Nacional de Educação, em Lisboa.

Jorge Pedreira respondeu assim às acusações tornadas públicas pela Federação Nacional de Professores (Fenprof), que diz que o sistema de quotas na avaliação dos professores, dependente da avaliação externa das escolas levada a cabo pela Inspecção-Geral da Educação, põe em causa o "reconhecimento do mérito absoluto" dos docentes.

A atribuição da nota máxima às escolas nos cinco critérios em avaliação garante a possibilidade de classificar 10 por cento dos professores como "excelentes", e 25 por cento como "muito bons". "Num sistema cuja cultura era a da indiferenciação, é necessário, quanto mais não seja provisoriamente, ter sistemas que forcem à diferenciação", disse o secretário de Estado.

Quotas são "um patamar de exigência para a avaliação"
A Fenprof acusa ainda o Ministério da Educação de querer fazer depender a avaliação dos professores de critérios meramente administrativos ao que o secretário de Estado contrapôs hoje que "a fixação das quotas representa um patamar de exigência para a avaliação".

Jorge Pedreira disse também que a única forma de assegurar a diferenciação é "ter percentagens máximas", sublinhando que "o mesmo aconteceu relativamente à função pública".

A Fenprof levantou também dúvidas quanto à avaliação dos docentes de português no estrangeiro, referindo uma eventual "discriminação" face aos colegas de profissão e dizendo que está a ser usado como critério obrigatório a avaliação dos encarregados de educação, algo que, diz a estrutura sindical, está previsto no estatuto da carreira docente como facultativo.

Em resposta a esta questão Jorge Pedreira afirmou que "o estatuto da carreira docente diz que [o critério] não se aplica aos professores do ensino de português no estrangeiro" e acrescentou que aquilo que está a ser feito é "uma recolha de informação, não é uma avaliação oficial". "Quem avalia é o coordenador do ensino do português no estrangeiro e tem como obrigação recolher a opinião dos pais. Não há uma avaliação directa dos pais", esclareceu.


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domingo, 1 de junho de 2008

Dia Mundial da Criança

Dormindo

Miniatura


Pois eu gosto de crianças!
Já fui criança também…
Não me lembro de o ter sido;
Mas só ver reproduzido
O que fui, sabe-me bem.

É como se de repente
A minha imagem mudasse
No cristal duma nascente,
E tudo o que sou voltasse
À pureza da semente.


Miguel Torga in Diário VIII (Coimbra, 11 de Abril de 1957)

Excelentes, muito-bons e bons explicados pelo Antero!




Cartoons do Antero in Blog anterozóide (clicar para aumentar)

...e manda quem pode...

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