quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Opinião de um encarregado de educação

Do Blog De Rerum Natura publicamos o seguinte texto, de autoria da pedagoga Helena Damião:


O semanário Expresso de 22 de Novembro do ano passado, escolheu na rúbrica: A carta da semana a Opinião de um encarregado de educação. Alberto Diamantino Costa, o encarregado de educação, de Seia, escrevia o seguinte (página 38):


"Já que muitos jornalistas e comentadores defendem e compreendem o modelo proposto para a avaliação dos docentes, estranho que, por analogia, não o apliquem a outras profissões (médicos, enfermeiros, juízes, etc.).
Se é suposto compreenderem o que está em causa e as virtudes deste modelo, vamos imaginar a sua aplicação a uma outra profissão, os médicos.
A carreira seria dividida em duas: médico titular (a que apenas um terço dos profissionais podia aspirar) e médico.
A avaliação seria feito pelos seus pares e pelo director de serviços. Assim, o médico titular teria de assistir a três sessões de consultas, por ano, dos seus subordinados, verificar o diagnóstico, tratamento e prescrição de todos os pacientes observados.
Avaliaria também um portefólio com o registo de todos os doentes a cargo do médico a avaliar, com todos os planos de acção, tratamentos e respectiva análise relativa aos pacientes.
O médico teria de estabelecer, anualmente os seus objectivos: doentes a tratar, a curar, etc.
A morte de qualquer paciente, ainda que por razões alheias à acção médica, seria penalizadora para o clínico, bem como todos os casos de insucesso na cura, ainda que grande parte dos doentes sofresse de doença incurável, ou terminal. Seriam avaliados da mesma forma todos os clínicos, quer a sua especialidade fosse oncologia, nefrologia ou cirurgia estética…
Poder-se-ia estabelecer a analogia completa, mas penso que os nossos ‘especialistas’ na área da educação não terão dificuldade em levar o exercício até ao fim.
A questão é saber se consideram aceitável o modelo? Caso a resposta seja afirmativa, então porque não aplicar o mesmo, tão virtuoso, a todas as profissões? Será? Já agora… Poderiam começar a ‘experiência’ pela Assembleia da República e pelos (des)governantes…"

Acertou o autor da Carta; antecipou-se à divulgação pública do Ministério da Saúde, mas acertou: foi realmente noticiada nos últimos dias, a (nova) proposta avaliação do desempenho dos médicos, a qual deve obedecer ao Sistema Integrado de Avaliação do Desempenho da Administração Pública e, nessa medida, será muito parecida à avaliação do desempenho dos professores. Implicará o estabelecimento de objectivos individuais, a sua confrontação com os resultados obtidos, o uso de grelhas, etc.

Só me parece que Alberto Diamantino Costa se enganou numa coisa: não estou a ver este Sistema aplicado aos governantes. A outras profissões, sim, como refere ; mas não à de governante.


E, já agora, uma nota: este Sistema não deve ter sido propriamente "obra" dos "especialistas" na área da educação; outros "especialistas" devem ter participado...

O Governo induca e o Magalhães instrói

Aparelhos criam cérebros preguiçosos

Má reserva cognitiva pode acelerar a ocorrência de doenças neurodegenerativas. Crianças que só interagem com máquinas arriscam-se a sofrer de distorções verbais e até de epilepsia.


O uso desregrado das novas tecnologias pode ser meio caminho andado para uma má memória na velhice. O cérebro, não sendo um músculo, comporta-se como tal. Se não for usado, enferruja, alertam os especialistas.

"Se não se fizer alguma coisa já, teremos uma geração onde imperará a lei do menor esforço. Estamos a ficar escravos das máquinas. Sem estimulação, o cérebro ficará mais preguiçoso", alerta Manuel Domingos, coordenador da Unidade de Neuropsicologia do Hospital Miguel Bombarda, em Lisboa, e presidente da Comissão Científica da Sociedade Portuguesa de Neuropsicologia.

O cérebro parece estar a cair em desuso para muitas tarefas. Graças ao telemóvel, não é necessário memorizar números. As caixas registadoras fazem os trocos, enquanto o GPS retira a necessidade de ter "mapas mentais" ou pontos de referência. Poupa-se no cálculo e no raciocínio e corre-se o risco de alterar o funcionamento do cérebro, gerando massas cinzentas apáticas, atrofiadas.

Para o neuropsicólogo, as crianças são o grupo de maior risco. Na escola, o cálculo mental anda muito substituído pela calculadora. Em casa, são as consolas, os computadores e a televisão que captam as atenções, porque é mais seguro brincar em casa ou por falta de tempo dos pais, mergulhados nas lides domésticas.

Os circuitos cerebrais envolvidos na interacção com os outros ficam relegados para segundo plano, critica, por seu turno, Ana Queiroz, psicóloga no Porto. A má socialização, o isolamento, as distorções verbais, a dificuldade em interpretar mensagens verbais e de expressão são algumas das consequências nocivas para as crianças decorrentes dos excessos. A estes malefícios acrescem os casos extremos de fotossensibilidade, que podem até descarrilar em crises de epilepsia, quando os monitores passam a ser a única companhia diária.

"A culpa é da sociedade e dos planos de ensino, pelo mau uso que se dá às novas tecnologias e por não se estimular mais o cálculo mental. A escolaridade básica está a ficar muito dependente, escrava da maquinaria", diz o neuropsicólogo Manuel Domingos.

"Em vez de se fazer uma multiaprendizagem, restringem-se as actividades, penalizando a aprendizagem futura", reforça Ana Queiroz, lembrando a facilidade com que uma criança é capaz de aprender duas línguas em simultâneo e como pode ser demorado e difícil alfabetizar um adulto.

Na óptica dos especialistas, exercitar os neurónios enriquece o cérebro. É uma espécie de "seguro" de vida. Uma boa ou má reserva cognitiva será uma defesa ou um risco para a vida futura.

"Fala-se da estimulação cognitiva para prevenir doenças degenerativas, utiliza-se a mesma nessas doenças como forma de atrasar o processo. No entanto, no dia-a-dia, com todos os facilitismos à disposição, não implementamos comportamentos que nos ajudariam a manter as nossa capacidades em constante desenvolvimento. Prevenir nunca fez mal a ninguém", sustenta Ana Queiroz.


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

A cultura do medo e da censura

Primeiro começa-se por ameaçar.

Condena-se por delito de opinião, por simples gracejo privado ou manda-se para muito longe os que discordam de nós.

Depois, aumenta-se a parada e passa-se a exigir auto-censura e obediência cega.

A seguir usa-se alguns bodes expiatórios para que tudo vá ao sítio, recomenda-se a leitura de um textos escolhidos do Grande Líder ou que uns jornalistas se retractem.

Não há de novo nisto - a História do século XX está cheia de casos destes...

E a coisa está a ir - veja-se alguns exemplos:



Triste arremedo de democracia em que nos querem enfiar - fazem muito bem em trazer cá o futuro Presidente vitalício de uma nação sul americana e os carrascos de Tiananmen - há muitas coisas em que o partido de José Sócrates pode ainda melhorar...

A Directora Regional da Educação do Norte, as suas estranhas missivas e a opinião dos jornalistas - II


O Carnaval da sintaxe

Agora que o ME divulgou novos programas de Português preconizando que, no final do Ensino Básico, os alunos devem ser capazes de produzir "textos coesos e coerentes" e "correctos em português padrão", o caso da DREN continua a ser exemplar do "português padrão" em uso no ME e do nível de exigência do Ministério em relação à avaliação das "competências" dos seus altos (ou baixos, sei lá) funcionários.

Depois do histórico ofício sobre os "Magalhães", a directora de Educação do Norte (que é suposto ter concluído o Básico) escreve agora, em novo ofício, coisas "coesas e coerentes" como: "Sendo certo que muitos docentes não se aceitam o uso dos alunos nesta atitude inaceitável"; ou: "a sua [da escola] missão de processos de socialização"; ou: "razão central porque", e por aí fora.

Pelos vistos, as palavras e a gramática insistem em não respeitar a autoridade da senhora directora e, folionas (o ofício é, apropriadamente, sobre o Carnaval), fazem dela gato-sapato e escrevem-se como muito bem lhes apetece. Eu já lhes teria posto, como ao outro da piada sobre a licenciatura, um processo disciplinar.

in JN - texto de opinião de Manuel António Pina

A Directora Regional da Educação do Norte, as suas estranhas missivas e a opinião dos jornalistas - I

Opinião
Blog

A directora regional de Educação do Norte tornou-se conhecida por ter instaurado (a um professor) um processo disciplinar de contornos políticos. Não contente com isso, que já é demais em qualquer país decente, avisou que coleccionava jornais e blogues que a criticassem, certamente para perseguir os seus autores.

Pode bem fazê-lo: circulam pela net algumas das suas maiores pérolas ortográficas e sintácticas, de bradar aos céus. Por menos do que isso pode negar-se emprego a muita gente. O problema é que esses erros graves de Português em documentos oficiais são dados por uma responsável do Ministério da Educação. Que confiança podemos ter num Ministério que mantém no seu posto uma chefe de serviços que atropela a Língua Portuguesa em documentos que levam o seu selo? Nenhuma.

Francisco José Viegas, escritor (in CM)

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Foto do Público sobre o protesto no Desfile de Carnaval de Paredes de Coura


Carnaval: professores protestam, alunos festejam

Dia de festa para as crianças, de protesto para os docentes. Os professores do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura desfilaram hoje ao lado dos alunos mas amordaçados, vestidos de preto, e com as mãos presas por correntes, em manifestação contra a DREN...

Fotografia: Adriano Miranda
in Público on line (link não disponível)

A DREN, a autonomia das Escolas e a estupidez de uma comissária política - II

Carnaval
Professores de Paredes de Coura desfilaram sob protesto
20.02.2009 - 18h30 Andrea Cruz

Os docentes queriam suspender algumas iniciativas devido à falta de tempo motivada pelo modelo de avaliação

Os professores do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura desfilaram hoje, ao lado dos alunos que festejavam o Carnaval. Mas vestidos de negro, amordaçados e com as mãos presas por correntes, como forma de protesto contra a Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) que, contrariando uma decisão do Conselho Pedagógico, lhes ordenou que acompanhassem as cerca de 400 crianças do pré-escolar e do 1º ciclo do Ensino Básico, pelas ruas da sede do concelho.

“Só antes do 25 de Abril é que as pessoas eram obrigadas, é uma vergonha!”, indignou-se uma docente que disse não se identificar por medo de represálias e que ostentava correntes em volta dos punhos e um saco preto na cabeça. Outro professor, Armando Lopes, sublinhou que a decisão da DREN “é ilegal”, por contrariar uma decisão tomada pelo conselho pedagógico, “um órgão com autonomia”.

Com os professores esteve o coordenador do Sindicato dos Professores do Norte (SPN), Abel Macedo, que prestou declarações aos jornalistas para defender que a imposição da DREN, “um sinal de que hoje não há liberdade no desempenho profissional”, “deve fazer pensar os portugueses”. “Como é que alguém se arroga o direito de silenciar e amordaçar uma classe?”, questionou, acrescentando que a ordem para que se realizasse o cortejo se “tratou de um abuso claro e de excesso de autoridade por parte da directora regional”.

Ontem, a presidente do Conselho Executivo do agrupamento, Cecília Terleira, explicou que os professores decidiram suspender algumas das 164 iniciativas previstas no plano de actividades devido à falta de tempo motivada pelos processos de avaliação do desempenho e de eleição do Conselho Geral Transitório e do director. Mas assegurou que só haviam sido canceladas aquelas que não foram consideradas indispensáveis ao processo de aprendizagem das crianças.

Estava previsto que os alunos festejassem o Carnaval no espaço escolar, mas a decisão desagradou à Associação de Pais e à Câmara Municipal, que reclamaram a realização do habitual cortejo. Foi assim que, depois de um braço de ferro que se prolongou pelos últimos dias, a DREN reiterou a ordem dada a Cecília Terleira para que convocasse os professores para a realização do cortejo.

Os pais, que hoje acompanharam de perto a participação dos filhos no corso carnavalesco, já pediram uma reunião com o Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas, prevista para a próxima semana, para tentar garantir a realização de outras actividades canceladas, como as visitas de estudo de alunos até ao 8º ano e as idas à praia com as crianças da pré-primária.

A DREN, a autonomia das Escolas e a estupidez de uma comissária política

Escola terá de fazer o desfile pelas ruas
DREN contraria Conselho Pedagógico de Paredes de Coura na polémica sobre desfile de Carnaval
19.02.2009 - 18h52 Graça Barbosa Ribeiro

A Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) contrariou hoje uma decisão do Conselho Pedagógico do Agrupamento de Escolas de Paredes de Coura – que decidira fazer a festa de Carnaval dentro do estabelecimento – e ordenou ao Conselho Executivo que convoque os professores para fazerem o desfile pelas ruas, amanhã à tarde.

“Tenho ordens para não falar, mas é impossível não reagir a esta desautorização da tutela em relação a uma decisão tomada em Conselho Pedagógico”, protestou a presidente do Conselho Executivo, Cecília Terleira, quando contactada pelo PÚBLICO.

Ontem à noite, os professores decidiram que, se após as explicações, a DREN mantivesse a ordem anteriormente dada através de correio electrónico, aceitariam participar no desfile, sob protesto, para não correrem o risco de ver demitida a presidente do Conselho Executivo. “Vou fazer a convocatória, como foi acertado com os professores que, numa reunião marcada para hoje, poderão decidir manifestar, de alguma forma, o seu descontentamento”, disse Cecília Terleira.

A presidente do CE, que comentou que “os professores e os elementos dos órgãos de gestão da escola “estão em estado de choque com a falta de respeito da tutela por uma decisão tomada nos órgãos próprios”, sublinhou que o critério para o cancelamento do cortejo e de outras actividades foi suspender “apenas aquelas que não prejudicassem a aprendizagem dos alunos”.

Alegando falta de tempo – devido aos processos de eleição do Conselho Geral e do director e ao processo de avaliação – o Conselho Pedagógico decidiu terça-feira suspender algumas das 164 iniciativas que faziam parte dos planos de actividades. “Foram escolhidas apenas aquelas que não eram essenciais à aprendizagem e que, para além disso, eram promovidas fora do horário lectivo e não lectivo dos professores”, explicou Cecília Terleira. Entre elas estava o cortejo de carnaval dos cerca de 400 alunos do pré-escolar e 1º ciclo do Ensino Básico que, decidiram os professores, festejariam o Carnaval mascarando-se e brincando nos respectivos estabelecimentos de ensino.

A decisão mereceu a imediata crítica da Câmara Municipal, de maioria socialista, e também da Associação de Pais, cujo presidente, Eduardo Bastos, disse ontem à noite à Lusa já ter “a informação, embora oficiosa”, de que iria “mesmo haver desfile”.

O PÚBLICO tentou obter uma reacção do Ministério da Educação, mas sem êxito.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O lápis (lazuli...)

Direcção Regional de Educação do Centro nega que e-mail enviado aos Conselhos Executivos tivesse qualquer objectivo de “pressão ou intromissão”
Pergunta sobre professores que não entregaram objectivos foi “um lapso”
18.02.2009 - 14h23 Graça Barbosa Ribeiro

Os presidentes dos Conselhos Executivos das Escolas que haviam sido chamados a revelar qual a sua “posição relativamente aos docentes que não entregaram os objectivos individuais” foram hoje contactados por um responsável da Equipa de Apoio às Escolas de Coimbra, que lhes disse que a pergunta foi feita “por lapso” e os dispensou de responder.

Os contactos – cujo teor foi confirmado pela presidente do Conselho Executivo da Infanta Dona Maria, Rosário Gama – foram seguidos da divulgação de um comunicado pela Direcção Regional de Educação do Centro (DREC), em que se afirma que “o e-mail enviado [para as escolas], de iniciativa local, não teve qualquer objectivo de pressão ou intromissão”. “Foi a forma encontrada por uma determinada equipa de Apoio às Escolas de fazer um ponto da situação, conducente a qualquer esclarecimento ou apoio que se revelasse oportuno”, acrescenta.

A questão em causa foi colocada no âmbito de um inquérito em que se perguntava, também, qual o número de professores que entregaram objectivos, o dos que os não entregaram, o dos que requereram avaliação científico-pedagógica e avaliador do próprio grupo disciplinar e ainda o daqueles que pediram dispensa de avaliação. E foi entendida por Isabel Le Guê, que este mês foi escolhida para porta-voz dos 212 presidentes dos conselhos executivos que contestam a avaliação dos professores, como “uma forma de pressão”.

“Que relevância tem a posição da Comissão Executiva em relação aos que não entregaram os objectivos individuais? Infelizmente, só posso interpretar a pergunta como uma manobra intimidatória, como forma de levar os presidentes dos conselhos executivos a agirem – não com o propósito que devia ter qualquer avaliação, a de melhorar o desempenho dos avaliados – mas sim por medo de serem prejudicados”, reagiu ontem Isabel Le Guê.

Maria do Rosário Gama, que faz parte do grupo dos 212 professores, frisou hoje que a pergunta “só podia ser entendida como uma forma de pressão” e disse-se “muito satisfeita por se tratar de um lapso”. “Nunca senti qualquer forma de pressão por parte desta direcção regional e estava extremamente surpreendida”, afirmou.

Outro caso meramente pontual

Docente apresentou queixa na PSP
Professora agredida a murro por mãe de aluna de escola secundária na Figueira da Foz
18.02.2009 - 20h49 Lusa

Uma professora de História da Escola Secundária Bernardino Machado, na Figueira da Foz, foi alegadamente agredida a murro pela mãe de uma aluna do 11º ano, tendo apresentado queixa na PSP, disse hoje fonte policial.

"Foi uma agressão física sem arma. A senhora foi vista no centro de saúde e depois formalizou a queixa", disse fonte da PSP da Figueira da Foz.

O caso aconteceu sexta-feira durante uma reunião na escola sobre o rendimento escolar da aluna, entre a mãe da rapariga - já identificada pelas autoridades -- e a docente, ambas com cerca de 40 anos.

A fonte da PSP considerou estar-se perante uma "situação muito grave", dado o contexto em que a alegada agressão ocorreu.

"Nem sequer necessita de queixa, segundo o Código Penal. É um crime público, porque há uma relação directa entre a função da docente e a agressão", explicou.

O caso está entregue ao Ministério Público.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Mais um caso meramente esporádico

Docente atacado por familiar de aluno
Agressão a professor em escola de Braga sob investigação
12.02.2009 - 09h11 :, Samuel Silva

O Ministério Público vai investigar uma queixa de um professor de Inglês de uma escola de Braga, que terá sido agredido, anteontem, pelo familiar de um aluno.

O docente foi atacado na terça-feira, no final do dia de aulas, à saída da Escola Básica 2,3 Francisco Sanches, e deu entrada no Hospital de S. Marcos para receber tratamento a vários golpes e escoriações na face e tronco, recebendo alta ao final da noite de anteontem. Os ferimentos terão sido provocados pelo tio de um aluno expulso da sala de aula pelo professor.

Vários docentes e funcionários assistiram à agressão, tendo identificado o aluno e o familiar e apontado a matrícula do carro em que saiu da escola, depois de ter atacado o professor de Inglês. Estas testemunhas estiveram na base da queixa apresentada ontem à PSP local. De acordo com fonte policial, a participação foi encaminhada para o Ministério Público e as autoridades vão agora abrir um inquérito para averiguar as circunstâncias em que se deu a alegada agressão.

Contactada pelo PÚBLICO, a direcção da escola não quis prestar quaisquer esclarecimentos sobre o sucedido. No entanto, o presidente do conselho executivo, Jorge Amado, adiantou ao jornal "Correio do Minho" que o agressor "entrou na escola ameaçando fisicamente e insultando" professores e funcionários.

O indivíduo terá depois aguardado, já do lado de fora da escola, pela saída do docente de Inglês, tendo-o atacado. "Empurrou o professor e esmurrou-o violentamente na cara e na cabeça. Ficou com sangue a sair pela boca e pelo nariz", descreve o director da escola ao diário bracarense.

O comportamento do familiar terá sido despoletado pela expulsão da criança da sala de aulas. Durante um teste, o estudante, de 11 anos, estaria a fazer barulho, tendo sido chamado à atenção pelo docente. Alegadamente não obedeceu às ordens para que parasse e foi levado ao conselho executivo. O estudante terá então feito queixa ao familiar, que se deslocou à escola para confrontar o professor.

De acordo com a Lusa, o aluno em causa deverá ser alvo de um processo disciplinar, devendo o caso ser analisado pela Direcção Regional de Educação do Norte. Fonte da escola adianta também que este não é o primeiro caso disciplinar envolvendo a mesma criança, que terá habitualmente um comportamento problemático.


Nota: Ainda bem a Ministra da Educação, os Secretários de Estado da Educação e a Directora Regional vieram manifestar a sua solidariedade para com mais este docente agredido - as suas palavras (ou ausência delas...) falam bem alto.

O país do faz de conta

Está bem... façamos de conta

Opinião - Mário Crespo

2009-02-09

Façamos de conta que nada aconteceu no Freeport. Que não houve invulgaridades no processo de licenciamento e que despachos ministeriais a três dias do fim de um governo são coisa normal. Que não houve tios e primos a falar para sobrinhas e sobrinhos e a referir montantes de milhões (contos, libras, euros?). Façamos de conta que a Universidade que licenciou José Sócrates não está fechada no meio de um caso de polícia com arguidos e tudo.

Façamos de conta que José Sócrates sabe mesmo falar Inglês. Façamos de conta que é de aceitar a tese do professor Freitas do Amaral de que, pelo que sabe, no Freeport está tudo bem e é em termos quid juris irrepreensível. Façamos de conta que aceitamos o mestrado em Gestão com que na mesma entrevista Freitas do Amaral distinguiu o primeiro-ministro e façamos de conta que não é absurdo colocá-lo numa das "melhores posições no Mundo" para enfrentar a crise devido aos prodígios académicos que Freitas do Amaral lhe reconheceu. Façamos de conta que, como o afirma o professor Correia de Campos, tudo isto não passa de uma invenção dos média. Façamos de conta que o "Magalhães" é a sério e que nunca houve alunos/figurantes contratados para encenar acções de propaganda do Governo sobre a educação. Façamos de conta que a OCDE se pronunciou sobre a educação em Portugal considerando-a do melhor que há no Mundo. Façamos de conta que Jorge Coelho nunca disse que "quem se mete com o PS leva". Façamos de conta que Augusto Santos Silva nunca disse que do que gostava mesmo era de "malhar na Direita" (acho que Klaus Barbie disse o mesmo da Esquerda). Façamos de conta que o director do Sol não declarou que teve pressões e ameaças de represálias económicas se publicasse reportagens sobre o Freeport. Façamos de conta que o ministro da Presidência Pedro Silva Pereira não me telefonou a tentar saber por "onde é que eu ia começar" a entrevista que lhe fiz sobre o Freeport e não me voltou a telefonar pouco antes da entrevista a dizer que queria ser tratado por ministro e sem confianças de natureza pessoal. Façamos de conta que Edmundo Pedro não está preocupado com a "falta de liberdade". E Manuel Alegre também. Façamos de conta que não é infinitamente ridículo e perverso comparar o Caso Freeport ao Caso Dreyfus. Façamos de conta que não aconteceu nada com o professor Charrua e que não houve indagações da Polícia antes de manifestações legais de professores. Façamos de conta que é normal a sequência de entrevistas do Ministério Público e são normais e de boa prática democrática as declarações do procurador-geral da República. Façamos de conta que não há SIS. Façamos de conta que o presidente da República não chamou o PGR sobre o Freeport e quando disse que isto era assunto de Estado não queria dizer nada disso. Façamos de conta que esta democracia está a funcionar e votemos. Votemos, já que temos a valsa começada, e o nada há-de acabar-se como todas as coisas. Votemos Chaves, Mugabe, Castro, Eduardo dos Santos, Kabila ou o que quer que seja. Votemos por unanimidade porque de facto não interessa. A continuar assim, é só a fazer de conta que votamos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A ética republicana e o Partido Socialista - VII

"O presidente da Câmara da Guarda (PS) recusou hoje enviar para a Inspecção-Geral de Administração do Território (IGAT) o relatório da comissão interna sobre licenciamento de projectos assinados por José Sócrates nos anos 80, por considerar que "está tudo esclarecido"." (Público)

A ética republicana e o Partido Socialista - VI

PROJECTO NA HORA - Agora TODOS podem ter o seu projecto assinado pelo Primeiro-Ministro

A ética republicana e o Partido Socialista - V

A ética republicana e o Partido Socialista - IV

"Os polémicos projectos assinados por José Sócrates no concelho da Guarda nos anos 80 vão ser investigados pelo Ministério Público e pela Polícia Judiciária. Vários projectos de casas realizados pelo primeiro-ministro levaram entre um a oito dias a ser aprovados pelo executivo" (sol)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Forma original de protesto

PROFESSOR ENVIOU SAPATOS A SÓCRATES E À MINISTRA

Forma de protesto inspirada no jornalista iraquiano que atirou os seus a George W. Bush


António Morais está cansado de protestar. Habituado a percorrer o país, tanto a pé como de bicicleta, este professor da região de Aveiro não desiste de lutar e usar a imaginação como forma de atingir algum fim.


Desta vez, decidiu replicar o gesto do jornalista iraquiano que atirou os sapatos a George W. Bush, enviando os seus pelo correio (registado) ao primeiro-minstro e à ministra da Educação. «É um gesto simbólico, provavelmente a encomenda não vai ser recebida pelos destinatários, mas a indignação pelo que se está a passar neste país fica registada», explicou ao PortugalDiário.

VEJA AQUI AS FOTOS DAS ENCOMENDAS

A acompanhar os sapatos seguia uma missiva explicativa, datada de 28 de Janeiro. Os sapatos são caracterizados como algo importante, «porque palmilharam parte deste país, conhecem muitos dos meus dias, tecidos de ilusões e cansaços e, sobretudo, desespero e frustração pela degradação democrática deste país».


«Os sapatos transformaram-se, devido à acção daquele jornalista iraquiano, em símbolo de protesto contra autoritarismos desmedidos, gestão danosa dos países, manipulação e mentira como estratégia governativa das nações», explicou o prof. Morais a José Sócrates, acrescentando: «Representam o meu mais veemente protesto pela forma como tem governado este país que formalmente é democrático. No entanto, e graças a si, a palavra democracia está a afastar-se exponencialmente do seu significado original, cuja acepção etimológica era o "poder do povo" e que Abraham Lincoln definia como: "O governo do povo pelo povo e para o povo". Que longe nos encontramos deste conceito, no presente!!!».

Enviar os sapatos por correio é um acto que considera ser mais «pacífico» do que fazê-lo numa conferência de imprensa, tal como aconteceu no Iraque: «Pode estar descansado, apenas lhos envio como um gesto simbólico que remete para uma sintonia com a raiva sentida pelo autor original da acção. Com a certeza que lutarei contra este estado de coisas até ao limite das minhas forças».


A Maria de Lurdes Rodrigues, António Morais endereça uma mensagem mais consentânea, recordando que vestiu uma t-shirt negra durante 204 dias com a inscrição «Estou de luto pela educação».


Apenas de uma coisa se arrepende: não ter criticado o alegado estudo da OCDE, que afinal não foi realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento. «Aquilo que aconteceu foi uma mentira, mas este país nada faz. É algo diabólico o que está a acontecer, por isso temos de reagir, porque o medo está a perturbar o trabalho nas nossas escolas», frisou, não se cansando de assegurar que irá continuar a lutar, porque «o país está doente».

in PSITACÍDEO - ler post aqui

Abaixo-assinado: Pelo Voluntariado na Política

To: A quem de direito

As grandes iniciativas são de aplaudir. E as grandes iniciativas majestaticamente altruístas são de incentivar, depois de aplaudidas. Sua Excelência o Secretário de Estado da Educação, de seu nome Valter de Lemos, com o seu projecto de despacho para recrutar professores reformados para trabalho voluntário nas escolas, inspirou-nos. Professores que tenham abandonado o ensino por via duma reforma antecipada poderão tranquilizar a sua consciência face à fuga prematura, mesmo que a perda material não seja reposta. Para se sentirem mesmo re-integrados, até terão igualmente direito a avaliação no final do ano lectivo.

Como medida genial que é, cuja superior grandeza apenas não foi suficientemente sublinhada face ao carácter humilde do seu criador, entendemos que a bem da Nação não pode ficar limitada a esta área profissional. O voluntariado é nobre; é desinteressado; e é barato! É em consequência desta observação que vêm os signatários desta petição solicitar que esta Assembleia estenda este brilhantismo aos gestores públicos e ministros, sem esquecer todos os cargos de nomeação pública. Dêem, por favor, hipótese de redenção a todos quantos pretendam desempenhar os seus cargos sem a maçada de uma remuneração mensal.

Pelo País, pela abnegação mas sobretudo pelo nosso bolso, que esta Assembleia institua o regime de voluntariado entre a classe política. Sem esquecer a avaliação anual, naturalmente.

Sincerely,

A geração albinóide

Que geração será a das crianças que vão passar doze horas na escola?
07.02.2009, Natália Faria

Adolescentes como os do filme Paranoid Park, quase delinquentes. Ou como os outros, sem mais dramas. Mas o tempo a mais na escola deve ser para brincar


Diz o psiquiatra Daniel Sampaio: "O que é preciso é modificar os horários dos pais e não aumentar o tempo de permanência das crianças na escola. Se persistirmos neste modelo, estaremos a criar uma geração de adolescentes como a do Paranoid Park, do Gus Van Sant", ou seja, jovens a arriscar a fronteira da delinquência.

Diz o psiquiatra Daniel Sampaio: "O que é preciso é modificar os horários dos pais e não aumentar o tempo de permanência das crianças na escola. Se persistirmos neste modelo, estaremos a criar uma geração de adolescentes como a do Paranoid Park, do Gus Van Sant", ou seja, jovens a arriscar a fronteira da delinquência.

Desdramatiza o neuropediatra Nuno Lobo Antunes: "Não antecipo nada esse cenário. Não creio que a permanência das crianças na escola durante mais tempo vá provocar uma hecatombe ou deitar a perder uma geração. Não sendo a situação ideal, não me parece que as crianças fiquem mal empregues".

A possibilidade de as escolas do 1.º ciclo do ensino básico funcionarem 12 horas por dia, entre as sete da manhã e as sete da tarde, posta esta semana em cima da mesa pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), está longe de gerar consensos. A filosofia é adequar o horário das escolas públicas às jornadas de trabalho dos pais, libertando-os da necessidade de recorrer aos ATL (Actividades de Tempos Livres) que, ainda por cima, saem muito caros. De caminho, procura-se pôr a escola pública a funcionar numa lógica de centro escolar, capaz de oferecer terreno seguro para a brincadeira e para aprendizagens alternativas.

O Ministério da Educação garante que nada está decidido. "As actividades de enriquecimento extracurricular têm uma comissão de acompanhamento que analisará todas as eventuais propostas que surgirem nesse sentido. Só depois o ministério poderá avaliar e decidir", lê-se na resposta às perguntas colocadas pelo PÚBLICO. E dali não se arranca nem mais uma vírgula. Mas o presidente da Confap, Albino Almeida, garante que o processo está a ser negociado há um ano e está em fase avançada.

Para Daniel Sampaio, porém, a equação está posta ao contrário. "A escola não é feita para substituir a família", sustenta. Se persistirmos neste modelo, ou seja, na legitimação da ideia de que os pais não têm tempo para cuidar dos filhos, "estaremos a contribuir para que as crianças se transformem em adolescentes sem regras". Como os do filme de Gus Van Sant. "Não é um bom caminho", insiste, preconizando que os pais - "pelo menos um deles" - tem de poder chegar a casa mais cedo para estar com os filhos, "pelo menos até que estes tenham 15 anos".

Uma nova organização social é o que reivindica também a Federação Nacional dos Professores (Fenprof). "Pobres pais e pobre sociedade em que se propõe que as crianças possam ficar doze horas enfiadas numa escola", reage Francisco Almeida, daquele sindicato, para quem o novo Código de Trabalho vem desregular ainda mais o já desregulado mundo laboral na relação que este tem que ter com a família.

"As bolsas de horas vão permitir que as pessoas possam fazer jornadas de trabalho intensivas durante um período e que compensem depois, o que traz óbvias dificuldades de conciliação do trabalho com a família", acrescentou, pondo-se a fazer contas:"Se uma criança fica doze horas na escola, dorme oito e gasta uma hora ou hora e meia nos transportes não tem tempo nenhum para estar com os pais: se assim for, haverá miúdos que não chegam a deitar-se no colo do pai".

Para Nuno Lobo Antunes o ideal seria que fosse diferente. Mas, "num tempo em que para os casais terem um mínimo de qualidade de vida é fundamental a existência de dois salários, e numa altura em que para se ser competitivo no mundo do trabalho tem que se dispor de mais horas do que as que seriam exigíveis, o alargamento do horário das escolas "é uma medida que resulta das necessidades e das circunstâncias do tempo actual".

Nada que ameace traumatizar as crianças. "A verdade é que imensa gente frequentou colégios internos, portanto muito mais longe da família, e não me parece que isso lhes tenha tirado capacidade de imaginação ou autonomia", desdramatiza, lembrando que, "em muitos lares, a escola ainda é o espaço mais saudável a que as crianças têm acesso".

A professora na Escola Superior de Educação de Coimbra, Lucília Salgado, não anda longe deste raciocínio. "O ideal era que os pais estivessem com as crianças, mas isso é uma utopia no cenário actual de falta de emprego em que as empresas não cedem nada e os pais têm que trabalhar o máximo de tempo possível para conseguirem sobreviver". Portanto, ou as escolas se adaptam ou "muitas crianças ficam ao deus-dará ou a ver televisão, já que a rua há muito que deixou de ser espaço de brincadeira".

No cenário actual, o importante é garantir que este alargamento não signifique mais trabalho. "Cinco horas de estudo chegam. O resto do tempo tem que obedecer à regra dos três D's: descansar, divertir e desenvolver", defende Lucília Salgado. Um tempo que "seja de aprendizagem mas com características lúdicas e sem stress escolar".

O investigador Manuel Sarmento, do Instituto de Estudos da Criança, também impõe condições ao aumento da permanência na escola. "As actividades têm que ser organizadas pelas escolas, em articulação com as autarquias, e numa lógica de articulação com a comunidade.
Por outro lado, é crucial que as crianças tenham autonomia para decidir o que querem fazer e que a supervisão a que ficam sujeitas não esmague as suas possibilidades de desenvolvimento enquanto seres sociais".

in Público - versão on-line (link não disponível)


O país do Albino

Lá no Norte, há um senhor que ouve a voz que no deserto da 5 de Outubro (vulgarmente apelidado de Ministério da Educação) e repete, prepara ou mimeticamente reproduz o que por lá decidem.

Às vezes sai coisa acertada - muito poucas, já nem me lembro quando foi a última - mas, genericamente, Albino Almeida, Dr., tem servido de apenas de repetidor de opiniões pré-cozinhadas ou de baixo humor (um triste sucedâneo de um simples bobo da corte).

Se o senhor não fosse o Presidente da CONFAP, Confederação Nacional das Associações de Pais, e não tivesse lugar marcado em tudo o que é debate ou similar, não havia nada a declarar.

Mas a quantidade de declarações, avaliações, imposições, suspeições e outros que tais que debita semanalmente levam-nos a perguntar por que raio fala tanto o Albino... Será por causa dos generosos subsídios que o Ministério da Educação derrama no seu regaço anualmente? Será para disfarçar os problemas que a circulação desse dinheiro lhe causa? Será para que o venha a nós continue? Será para aparecer na fotografia ao lado de corruptos? Será apenas para nos rirmos enquanto o país afunda?

Não sei mas há coisas que não se podem deixar passar em branco:

Pais querem escolas do 1.º ciclo abertas doze horas por dia e dizem que ME já deu luz verde

1. O senhor Albino Almeida, Dr., representa apenas alguns pais e encarregados de educação - ainda há gente que pensa pela sua própria cabeça.

2. Os pais merecem mais de que serem escravos - mas sabe-se que a política deste Governo aponta para esse caminho; é pena é que alguém que se diz defensor dos pais entre nesta luta desigual a apoiar os exploradores na nobre tarefa de dar cabo dos direitos de se ser pai e mãe neste país.

3. Só 12 horas? Então e porque não os 5 dias de trabalho? Ou a semana inteira? Ou a noite, para alguns pais poderem fazer uns programinhos nocturnos? E os trabalhadores da noite, não merecem a atenção do Pai dos Pais?

4. Faltou dizer que os professores trabalham pouco e deveriam ser eles a ficar a guardar os putos na Escola - mas o senhor Albino Almeida, Dr., certamente noutra ocasião (talvez na 5 de Outubro...) irá explicar porque se esqueceu desse importante ponto nos seus argumentos.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Dúvidas na legalidade e constitucionalidade das medidas do Governo
Fenprof quer impugnar avaliação dos professores nos tribunais
06.02.2009 - 18h43

A Fenprof anunciou esta tarde que vai avançar com um processo de impugnação em tribunal das medidas do Ministério da Educação que simplificam a avaliação dos professores, por duvidar da sua legalidade e constitucionalidade.

Em conferência de imprensa na sede da Federação Sindical dos Professores, em Lisboa, Mário Nogueira indicou que, com base nos resultados já apurados na escolas onde terminou o prazo de entrega dos Objectivos Individuais (OI), a Fenprof calcula que no total entre 50 a 60 mil professores não entregarão os OI.

A entrega dos objectivos tem sido apresentado pelo Ministério da Educação como a primeira etapa da avaliação de desempenho. No decreto que a regulamenta, só a auto-avaliação, prevista para o final do ano lectivo, é apresentada como obrigatória. O prazo de entrega dos OI terminou já em cerca de um terço das escolas e agrupamentos do país, disse o secretário-geral da Fenprof.

in Público - ler notícia

Reunião em Coimbra
Presidentes dos Conselhos Executivos reiteram pedido de suspensão da avaliação de professores
07.02.2009 - 19h50 Graça Barbosa Ribeiro

Os 212 presidentes de Conselhos Executivos (PCE) de escolas e agrupamentos de todo o país decidiram hoje, numa reunião que decorreu em Coimbra, reiterar o pedido de suspensão do modelo de avaliação de desempenho dos professores que se encontra em vigor.

Num documento aprovado por unanimidade, sublinham que, ao contrário do que tem afirmado o Ministério da Educação, nada obriga à entrega dos objectivos individuais – por parte dos professores ou dos PCE – e consideram que a insistência na aplicação do modelo em causa, por parte do Governo, “parece responder apenas a um objectivo político que se esgota num mero cumprimento de calendário”.

Na reunião, onde ficou acertada a realização de novo encontro, ainda sem data determinada, em Lisboa, estiveram quase mais cem PCE do que aqueles que iniciaram o movimento de contestação ao actual modelo de avaliação, há cerca de um mês, em Santarém.

O tema da demissão em bloco, desta vez, não dominou o encontro. “Decidimos ter a coragem de não nos demitirmos – de não nos demitirmos de continuarmos a ter voz”, afirmou, em declarações aos jornalistas, Isabel Guê, presidente do Conselho Executivo da secundária Rainha D. Amélia, de Lisboa.

in Público - ler notícia

A ética republicana e o Partido Socialista - III

Henrique Neto diz que há medo no PS e critica "ministro da propaganda" Santos Silva


O socialista Henrique Neto considerou esta sexta-feira existir "de facto medo" no PS, fazendo duras críticas "à obsessão da fidelidade ao líder" de Augusto Santos Silva, a quem chama "ministro da propaganda".

"Há de facto medo no PS e na sociedade portuguesa, pelos mais variados motivos", diz o empresário Henrique Neto, numa carta aberta ao ministro dos Assuntos Parlamentares, Augusto Santos Silva, e ao deputado socialista Manuel Alegre, enviada à Lusa.

"Têm medo os empresários de que não sejam permitidos os apoios, os funcionários públicos relativamente aos chefes de nomeação política ou os professores da avaliação", concretiza Henrique Neto.

A carta aberta de Henrique Neto surge na sequência da intervenção do dirigente do PS e ministro dos Assuntos Parlamentares quarta-feira à noite, numa sessão de apresentação da moção de José Sócrates ao Congresso do partido onde disse gostar de "malhar na direita", deixando também críticas aos partidos à esquerda do PS.

"Eu cá gosto é de malhar na direita, e gosto de malhar com especial prazer nesses sujeitos e sujeitas que se situam, de facto, à direita do PS. São das forças mais conservadoras e reaccionárias que eu conheci na minha vida, e que gostam de se dizer de esquerda plebeia ou chique. Refiro-me, obviamente, ao PCP e ao Bloco de Esquerda", afirmou Santos Silva, que se referiu às questões internas do partido como "minudências".

Na mesma sessão, o histórico militante socialista Edmundo Pedro disse haver no PS quem não se pronuncie por medo, palavras que mereceram o elogio de Manuel Alegre, ao mesmo tempo que criticou o tom utilizado por Augusto Santos Silva.

Hoje, na carta aberta, Henrique Neto declara o seu "apoio e concordância" a Manuel Alegre, considerando que "as sucessivas intervenções do ministro da propaganda do PS, caracterizam-se pelo dogmatismo, pela política da verdade única e pela incapacidade de compreender que um partido politico moderno é mais de que a arregimentação de militantes passivos, que por seguidismo, necessidade, ou medo, deixaram de ter ideias e vontade próprias".

"No momento em que se prepara mais um congresso do Partido Socialista, a missão de Augusto Santos Silva é matar à nascença qualquer veleidade de debate livre e de novas ideias para o PS e para Portugal", critica, considerando que o ministro dos Assuntos Parlamentares se distingue "na obsessão da fidelidade ao líder".

"Augusto Santos Silva está apenas interessado em" malhar neles", começando logo por malhar nos militantes do PS", acrescenta ainda Henrique Neto, lamentando que o PS da liberdade e do debate político já não exista.

Menos duro que Henrique Neto, o deputado socialista Paulo Pedroso rejeitou a existência de medo no PS, apesar de reconhecer que "existe menos debate do que devia".

"Medo não há, há menos debate do que devia. Seria bom mais debate sempre", disse, em declarações à Lusa.

Contudo, acrescentou, num ano de eleições como é 2009, "o PS deve concentrar-se em debater as propostas para o país e não em disputas internas".

Questionado sobre as declarações do ministro dos Assuntos Parlamentares, Paulo Pedroso disse que o próprio Augusto Santos Silva "reconhecerá que 'malhar' não é o verbo mais elegante", apesar de ter sido utilizado em "sentido figurado".

in JN on-line - ler notícia

O voluntarioso Valter Lemos

A bondosa medida de Valter Lemos




Novo post de Rui Baptista, desta vez sobre o "voluntariado" nas escolas:


“O único sentido íntimo das coisas é elas não terem sentido íntimo nenhum” (Fernando Pessoa)

Apelando “ao exercício de cidadania que traduz uma expressão de solidariedade com a sociedade, contribuindo de forma livre e organizada para a solução dos problemas que a afectam”, a recente medida do secretário de Estado Valter Lemos, plasmada num projecto de despacho para o recrutamento de professores reformados como voluntários para prestarem serviço nas escolas, em tarefas não remuneradas (ou seja, de borla), traz-me à memória uma expressão de um bom amigo e colega que me dizia, a respeito de situações parecidas, que "favores destes também os espanhóis me fazem mesmo sem me conhecerem de lado nenhum".

E, para que conste, só do referido anexo sobre “áreas de eventual intervenção dos professores voluntários”, somadas as sua parcelas, obtém-se um total de 22 áreas: uma espécie de cardápio de restaurante com muitas “estrelas Michelin” para gostos selectivos e clientela refinada. De forma resumida, para que o leitor não desperdice o seu tempo e eu a minha (ainda que santa) paciência, de um emaranhado de articulados legais, subtraio dessas áreas, apenas, meia dúzia, a saber:

(1) “apoio à formação de professores e pessoal não docente" [para quem possa não estar dentro da nomenclatura, “pessoal não docente” reporta-se a funcionários das secretarias e auxiliares de educação educativa (antigos contínuos)];
(2) “planeamento e realização de Acções de Formação para Encarregados de Educação";
(3) “apoio burocrático-administrativo" [ou seja a burocratização de ex-professores elevada ao seu expoente máximo];
(4) “envolvimento em Projectos de melhoria da sociedade local”;
(5) “desempenho de funções de tutoria”;
(6) “apoio a programas de investigação”.

Como cereja em cima do bolo, na volúpia avaliativa que mora na 5 de Outubro, o projecto de despacho determina que a Escola/Agrupamento de Escolas “avalia periodicamente a(s) prestação (ões) do(s) voluntário(s)”. A avaliação está mesmo na ordem do dia. Já agora, quem avalia a acção governativa dos governantes com a tutela da Educação? Ou será que a avaliação se destina apenas à arraia miúda?

Segundo Valter Lemos, o leitmotiv desta “bondosa medida” legislativa contempla o pedido de uns tantos docentes reformados que se entediam com a passagem dos dias sem nada para fazer. Se, por hipótese, a solicitação partiu de professoras que pretendem encontrar nas escolas o convívio do chá das cinco das tiazinhas de Cascais, desenganem-se. Espera-vos um destino padrasto com deveres avaliados a pente fino e sem quaisquer direitos em contrapartida. Ora, como diz o povo na sua chã maneira de falar, “fama sem proveito faz mal à barriga e ao peito” .

Com a modéstia de reconhecer não ter ideias próprias, Valter Lemos recorre à analogia entre este voluntariado e aquele outro desempenhado nos hospitais com a abnegação de serviço público inerente. Trata-se de um tiro no pé: o voluntariado hospitalar não pressupõe, ao contrário de áreas da docência aqui implicadas, o exercício de funções do âmbito dos profissionais de saúde. E, muito menos, de apoio à formação de médicos e/ou enfermeiros, como um dever estipulado em letra de forma. Como escreveu Madre Teresa de Calcutá: “O dever é uma coisa muito pessoal; decorre da necessidade de se entrar em acção, e não da necessidade de insistir com os outros para que façam qualquer coisa”.

Rui Baptista - Blog De Rerum Natura

É favor não rir ao ler...

Projecto de Despacho


Considerando que o voluntariado é uma actividade inerente ao exercício de cidadania que traduz uma expressão de solidariedade com a sociedade, contribuindo de forma livre e organizada para a solução dos problemas que a afectam;

Tendo presente que importa aproveitar o capital humano disponível na pessoa dos professores aposentados que percorreram um caminho de excelência e têm particular aptidão para transmitir aos seus pares conhecimentos e saberes, em harmonia com a cultura e objectivos da Escola;

Tomando em consideração que o eventual contributo dos professores aposentados, tendo subjacente um conhecimento privilegiado da realidade escolar e uma consciência global baseada numa visão multidimensional dessa realidade pode, enquadrado nos parâmetros definidos pela Lei n° 71/98, de 3 de Novembro e pelo Decreto-Lei n° 388/99, de 30 de Setembro, assumir um relevo muito significativo;

Considerando, ainda, que um tal trabalho dos docentes aposentados se constituirá como uma actividade assente no reconhecimento das suas competências científicas, pedagógicas e cívicas, exercida de livre vontade, sem remuneração, numa prática privilegiada de realização pessoal e social;

Tendo em conta que, por outro lado, resultará garantida a autonomia da Escola, na medida em que a eventual prestação dos voluntários apenas pode decorrer de urna explícita manifestação de vontade por parte daquela, consubstanciada na aprovação de um programa de voluntariado, cabendo à sua Direcção, perante a apresentação das disponibilidade, a eventual selecção do candidato que considere reunir o perfil adequado para as funções em causa.

Considerando, por fim, que o desenvolvimento da actividade em apreço pressupõe que o voluntário não substitui os recursos humanos considerados necessários à prossecução das actividades da Escola;

Assim, nos termos do n° 3 do art° 4° e do art° 9° da Lei n° 71/98, de 3 de Novembro, e do n° 2 do art° 2° do Decreto-Lei n° 389/99, de 30 de Setembro, determina-se:

1° A Escola/Agrupamento de Escolas, caso entenda manifestar o seu interesse em projectos de voluntariado, adopta para o efeito os seguintes procedimentos:

a) Publicita a oferta pelos meios que considere adequados;

b) Selecciona e procede ao recrutamento do(s) voluntário(s), através dos respectivos órgãos de gestão, de acordo com as necessidades;

c) Estabelece com os candidato(s) o respectivo(s) programa(s) de voluntariado;

d) Disponibiliza ao(s) voluntário(s) os instrumentos de autonomia em que se enquadra e desenvolve o trabalho (Projecto Educativo, Regulamento Interno, Plano de Actividades e outros);

e) Avalia periodicamente a(s) prestação(ões) do(s) voluntário(s);

f) Adapta os instrumentos da autonomia aos novos preceitos legais do trabalho voluntário;

2° Os procedimentos referidos no número anterior concretizam-se tendo em conta os seguintes aspectos:

a) No início de cada ano lectivo, a Escola/Agrupamento de Escolas publicita as suas necessidades, estabelecendo o perfil do(s) candidato(s) a recrutar;

b) O período de recrutamento pode, no entanto, face a razões excepcionais devidamente justificadas, ocorrer em qualquer outra altura do ano;

d) Apresentadas as candidaturas, a Escola/Agrupamento de Escolas selecciona o(s) candidato(s) e aprova os respectivo(s) programa(s) de voluntariado, dando, na sequência, conhecimento do(s) nome(s) seleccionado(s) e respectiva(s) área(s) de intervenção à direcção Regional de Educação.

3° a) O programa de voluntariado tem a duração de um ano lectivo, sendo renovável por iguais períodos de tempo;

b) A prestação do professor voluntário implica um mínimo de três (3) horas por semana;

c) O trabalho do voluntário pode ser dado por findo, por iniciativa do próprio ou sempre que o órgão de gestão da Escola/Agrupamento de Escolas entenda que deixaram de existir as razões subjacentes ao seu recrutamento, mediante aviso prévio, devidamente fundamentado, com antecedência mínima de 30 dias.

4° Com vista à coordenação do trabalho voluntário, a nível de cada direcção regional de Educação, é criada uma estrutura de coordenação, integrada por professores voluntários, com as seguintes funções:
a) Enquadrar, acompanhar e apoiar o trabalho voluntário;
b) Inventariar experiências de sucesso e promover a sua difusão;
c) Estabelecer a ligação com as demais estruturas de coordenação.

5° Para efeitos do presente Despacho, consideram-se áreas de eventual intervenção do professor voluntário designadamente as constantes do anexo ao mesmo, que dele faz parte integrante.

6° a) Os professores voluntários, a quem no desempenho da actividade é reconhecida a sua dignidade docente, têm acesso, com observância das disposições legais e regulamentares pertinentes, aos documentos que sirvam de referência e se tomem imprescindíveis à sua acção;

b) Os professores voluntários, no desempenho da sua actividade, respeitam e agem em conformidade com a cultura da Escola/Agrupamento, observando os respectivos Projecto Educativo, Regulamento Interno e Plano de Actividades;

c) Os professores voluntários elaboram um relatório anual da actividade que deve integrar uma autoavaliação do trabalho desenvolvido.

d) No que respeita a despesas decorrentes do cumprimento do programa de voluntariado, designadamente quanto à utilização de transportes públicos, rege o disposto no art° 19° do Decreto-Lei n° 389/99, de 30 de Setembro.

Em, Dezembro de 2008.

O SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
(Valter Victorino Lemos)




ANEXO
Áreas de eventual intervenção do professor voluntário

- Apoio à formação de professores e pessoal não docente;

- Planeamento e realização de Acções de Formação para Encarregados de Educação;

- Apoio a professores - na programação, na construção de materiais didácticos;

- Apoio a alunos nas salas de estudo;

- Apoio e integração de alunos imigrantes - complementando o trabalho levado a cabo pelas escolas, nomeadamente através do reforço no ensino da Língua Portuguesa ou na ajuda ao estudo das disciplinas;

- Ajuda ao funcionamento das bibliotecas escolares / Centros de Recursos Educativos - através de projectos de leitura recreativa, ajuda à pesquisa bibliográfica ou electrónica, elaboração de trabalhos;

- Apoio aos Projectos Curriculares de Turma - através, nomeadamente, do apoio à interdisciplinaridade (análise e concertação de programas);

- Acompanhamento dos percursos escolares dos alunos;

- Apoio a visitas de estudo;

- Apoio burocrático-administratívo;

- Dinamização do binómio Escola / Família - através da ajuda na mediação escolar ou na recolha, criação e divulgação de materiais sobre temas de interesse dos Encarregados de Educação;

- Articulação Vertical e Horizontal dos currículos, privilegiando o contacto com as escolas e a programação vertical (ou horizontal) dos programas e de outros projectos visando o sucesso educativo dos alunos;

- Articulação de Projectos internos ou Escola / Autarquias/ Empresas visando a angariação de recursos e/ou integração profissional de alunos;

- Dinamização de Projectos de Aproximação da Escola ao Meio buscando o envolvimento da comunidade nas actividades escolares tendo em vista a consecução de objectivos específicos;

-Apoio e dinamização de actividades extracurriculares com a criação e/ou ajuda na dinamização de Clubes de Tempos Livres;

- Participação no Observatório de Qualidade da Escola/Agrupamento de Escolas;

- Elaboração da biografia da Escola / Agrupamento de Escolas;

- Criação e dinamização de um espaço de informação para professores sobre congressos, efemérides, projectos escolares, projectos sociais, publicações, boas práticas...;

- Apoios específicos em áreas de formação académica dos candidatos;

- Envolvimento em Projectos de melhoria da sociedade local;

- Desempenho de funções de tutoria;

- Apoio a programas de investigação.

O país do Valter

Admirável mundo novo é o país do Valter - homem sem mácula e cuja vontade férrea faz avançar os sucessivos sítios por onde mostra, ad nauseam, que só ela sabe fazer as coisas.

Foi assim em Macau, foi assim numa remota Câmara do distrito de Castelo Branco (cujo nome omito porque tenho consideração pelos seus habitantes), foi assim num Instituto Politécnico, é assim actualmente no Ministério da Educação - um senhor digno de figurar num qualquer anal de desgraças e trapalhadas.

Agora o Valter excedeu novamente todas as expectativas - então não é que se lembrou de despachar os professores reformados, que carregou anteriormente com mais trabalho e burocracia, que insultou e enxovalhou publicamente, que roubou na questão dos salários e das reformas, que aumentou o tempo de serviço para se reformarem, com uma proposta insultuosa de trabalho voluntário nas Escolas?

Pode deixar de gozar connosco, antes que alguém perca a cabeça, senhor Valter Lemos? E, já agora, onde está a autonomia das Escolas, se o senhor regulamenta tudo? E porque raio iriam os professores reformados voltar ao seu local de suplício e sujeitar-se a uma avaliação do seu trabalho voluntário regulamentada por si?

Tenha juízo e vá-se embora - de preferência para Macau, que é suficientemente longe e o seu trabalho ainda é recordado comum sorriso nos lábios de quem por lá passou...

Welcome to Elsinore

Elsinore

No palácio dos Átridas como em Elsinore
Tudo era cavernoso – as paredes
Eram grossas o espaço excessivo e sonoro
Roucas as vozes da maldição antiga

Porém em Micenas o sangue era exposto
E corria vermelho como num grande talho
Sujando apenas as mãos dos assassinos
E a água da banheira –
Lá fora o rio a luz
Continuavam limpos e transparentes
O crime era um corpo estranho e circunscrito
Não pertencia à natureza das coisas

Em Elsinore ao contrário o mal era um veneno
Subtil
Invadia o ar e a luz – penetrava
Os ouvidos as narinas o próprio pensamento –
O amor era impossível e ninguém podia
Libertar-se:
O inferno vomitava a sua pestilência invadia
As veias e os rios:
No entanto o mal não se via: era apenas
Um leve sabor a podre que fazia parte
Da natureza das coisas

in Ilhas - Sophia de Mello Breyner Andresen (1989)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Poesia para ministro catedrático trauliteiro

I

O pequeno filho-da-puta
é sempre
um pequeno filho-da-puta;
mas não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não tenha
a sua própria
grandeza,
diz o pequeno filho-da-puta.


no entanto, há
filhos-da-puta que nascem
grandes e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o pequeno filho-da-puta.
de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos,diz ainda
o pequeno filho-da-puta.


o pequeno
filho-da-puta
tem uma pequena
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o pequeno
filho-da-puta.


no entanto,
o pequeno filho-da-puta
tem orgulho
em ser
o pequeno filho-da-puta.
todos os grandes
filhos-da-puta
são reproduções em
ponto grande
do pequeno
filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

dentro do
pequeno filho-da-puta
estão em ideia
todos os grandes filhos-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
tudo o que é mau
para o pequeno
é mau
para o grande filho-da-puta,
diz o pequeno filho-da-puta.

o pequeno filho-da-puta
foi concebido
pelo pequeno senhor
à sua imagem
e semelhança,
diz o pequeno filho-da-puta.

é o pequeno filho-da-puta
que dá ao grande
tudo aquilo de que
ele precisa
para ser o grande filho-da-puta,
diz o
pequeno filho-da-puta.
de resto,
o pequeno filho-da-puta vê
com bons olhos
o engrandecimento
do grande filho-da-puta:
o pequeno filho-da-puta
o pequeno senhor
Sujeito Serviçal
Simples Sobejo
ou seja,
o pequeno filho-da-puta.

O Filho da Puta - Alberto Pimenta

Poesia dedicada a político vítima de sucessivas campanhas

II

o grande filho-da-puta
também em certos casos começa
por ser
um pequeno filho-da-puta,
e não há filho-da-puta,
por pequeno que seja,
que não possa
vir a ser
um grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.

no entanto,
há filhos-da-puta
que já nascem grandes
e filhos-da-puta
que nascem pequenos,
diz o grande filho-da-puta.

de resto,
os filhos-da-puta
não se medem aos
palmos, diz ainda
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
tem uma grande
visão das coisas
e mostra em
tudo quanto faz
e diz
que é mesmo
o grande filho-da-puta.

por isso
o grande filho-da-puta
tem orgulho em ser
o grande filho-da-puta.

todos
os pequenos filhos-da-puta
são reproduções em
ponto pequeno
do grande filho-da-puta,
diz o grande filho-da-puta.
dentro do
grande filho-da-puta
estão em ideia
todos os
pequenos filhos-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.

tudo o que é bom
para o grande
não pode
deixar de ser igualmente bom
para os pequenos filhos-da-puta,
diz
o grande filho-da-puta.

o grande filho-da-puta
foi concebido
pelo grande senhor
à sua imagem e
semelhança,
diz o grande filho-da-puta.

é o grande filho-da-puta
que dá ao pequeno
tudo aquilo de que ele
precisa para ser
o pequeno filho-da-puta,
diz o
grande filho-da-puta.
de resto,
o grande filho-da-puta
vê com bons olhos
a multiplicação
do pequeno filho-da-puta:
o grande filho-da-puta
o grande senhor
Santo e Senha
Símbolo Supremo
ou seja,
o grande filho-da-puta.

O Filho da Puta - Alberto Pimenta

Intermezzo musical para arremedo de ministra e sua equipa

Elvis Presley - Suspicious Minds



We're caught in a trap
I can't walk out
Because I love you too much baby

Why can't you see
What you're doing to me
When you don't believe a word I say?

We can't go on together
With suspicious minds
And we can't build our dreams
On suspicious minds

So, if an old friend I know
Drops by to say hello
Would I still see suspicion in your eyes?

Here we go again
Asking where I've been
You can't see these tears are real
I'm crying

We can't go on together
With suspicious minds
And be can't build our dreams
On suspicious minds

Oh let our love survive
Or dry the tears from your eyes
Let's don't let a good thing die

When honey, you know
I've never lied to you
Mmm yeah, yeah

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Poema para político de triste figura com escura sombra

SÍMBOLO

O Sol
pôs, na parede, a sombra do seu corpo pequenino
- que já fazia sombra -
e que o menino
descobriu.

Erguendo o braço
quis tocar a sombra
mas a sombra fugiu.

Tentou de novo e novo
mas nunca a sua mão pôde tocar-lhe.

Desanimado,
olhou o Sol de frente
e encontrou novidade
no caminho da luz

Mas, atrás dele,
ia a sombra
....................- teimosa -
......................................a persegui-lo.

Álvaro Feijó

A ética republicana e o Partido Socialista - II

1.ª Notícia publicada no site do PS

(cache Google)

Texto de

substituição

O Partido Socialista consumou uma acção fraudulenta de propaganda paga com dinheiros públicos. Os limites da razoabilidade foram ultrapassados.

in Blog 31 da Armada

A ética republicana e o Partido Socialista

Hoje é um excelente dia para falar de ética num partido que se diz herdeiro do Partido Republicano - sem grandes comentários, aqui ficam pedaços de notícias e capas de jornais, poucos porque isto dá para diversas levas,para que todos entendam o quero dizer.










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Quantos (ainda) seremos?



Quem diria que esta foto foi tirada no Metro de Lisboa, num tal de dia 15 de Novembro (ou 8, não sei ao certo) poucos minutos antes de uma das maiores manifestações de classes do país????

Verdade...

Com esta foto, um poema:

QUANTOS SEREMOS?

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga