Elsinore
No palácio dos Átridas como em Elsinore
Tudo era cavernoso – as paredes
Eram grossas o espaço excessivo e sonoro
Roucas as vozes da maldição antiga
Porém em Micenas o sangue era exposto
E corria vermelho como num grande talho
Sujando apenas as mãos dos assassinos
E a água da banheira –
Lá fora o rio a luz
Continuavam limpos e transparentes
O crime era um corpo estranho e circunscrito
Não pertencia à natureza das coisas
Em Elsinore ao contrário o mal era um veneno
Subtil
Invadia o ar e a luz – penetrava
Os ouvidos as narinas o próprio pensamento –
O amor era impossível e ninguém podia
Libertar-se:
O inferno vomitava a sua pestilência invadia
As veias e os rios:
No entanto o mal não se via: era apenas
Um leve sabor a podre que fazia parte
Da natureza das coisas
in Ilhas - Sophia de Mello Breyner Andresen (1989)
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Welcome to Elsinore
Etiquetas:
José Sócrates,
pântano,
poesia,
Portugal,
Sophia de Mello Breyner Andresen
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário