terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Poema para ministra, apêndices e não grevistas

Cabeçudos e gigantones

Tua certeza eleva-se e recorta-se
no céu como um guindaste.
Hirta, metálica, adstrigente e fria,
como a encontraste?

Se eu devesse guardar-te respeito por teres um sorriso amável,
por serem castanhos os teus olhos ou por pisares o chão de certa maneira,
então respeitaria também a tua certeza inabalável
e dela te pediria um farrapo para arvorar em minha bandeira.

Faz-me pena a tua certeza como se tivesses sofrido um acidente,
como se te visse estendido num leito, impossibilitado de te mexeres.
Em tua certeza, cadeira de rodas, fazes-te conduzir piedosamente,
e os caminhos passam por ti sem tu passares por eles, e sem os veres.

Embrulhado na tua certeza, de rosto voltado para a parede,
adormeces sorrindo enquanto a vida, aos borbotões, exulta.
Foguete de lágrimas, meandros sem recta, catapulta,
veio de água que afoga e nunca mata a sede.


in Movimento Perpétuo, 1956 - António Gedeão

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