terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Texto interessante proveniente da PROmova

POLÍTICAS EM (DE)COMPOSIÇÃO

1. Boletim Necrológico do Ministério da Educação
Estocada após estocada a “coisa” foi entrando em estertor e, agora, morreu. Antes mesmo de entrar em cena, a “coisa” foi sendo espartilhada, esquartejada e desventrada sem critério. Nas escolas, foi-se tornando vector de inquinações para a motivação escolar, as relações interpessoais ou o sentido de justiça. A “coisa”, a quem insistem em chamar modelo, está, definitivamente, morta, apesar da prepotência, do aventureirismo irresponsável e da impreparação técnica e humana daqueles que no ME ensaiam, em desespero, um marketing divisionista para tentarem impingi-la à, cada vez mais rara, adesivagem.
Como alguém surripiou o portátil ao Sousa Tavares, este ainda não encontrou inspiração para acusar os professores de necrofagia. Logo, já ninguém defende que esta “coisa” seja digerível.
Pelos vistos, já nem o movimento dos 13 lhe pega, pois trata-se de avaliadores que, estranha e paradoxalmente, defendem o direito a serem avaliados. Mas, como o modelo de avaliação actual já não lhes garante a prerrogativa de serem avaliados, os tipos hão-de estar furiosos com o Ministério da Educação, pois perderam 2 minutos da sua vida a redigirem uma magnífica peça literária (para lhe conferir a relevância que não tem, houve quem lhe chamasse manifesto), assim esvaziada de sentido e actualidade.
Por razões sanitárias, era importante que alguém procedesse à remoção da "coisa", antes que feda insuportavelmente. Adiar as exéquias e o funeral deste malogro para o final do ano lectivo já não é apenas uma questão de teimosia, é bem capaz de configurar uma qualquer obsessão retencional. As escolas querem-na longe dos seus olfactos. A peça começa a ganhar o odor característico das lideranças políticas acanhadas, para quem o bom ambiente escolar, a motivação dos agentes educativos, a qualificação das aprendizagens e a valorização da escola pública não valem a audácia da assunção dos erros.
Ressuscitá-la, no próximo ano lectivo, só por devaneio mórbido.

2. Outra vez a neofábula da cigarra
Há quem afirme que esta equipa ministerial foi um erro de "casting" e que se vê agora constrangida, por inépcia própria, a meter “a viola deste modelo de avaliação no saco”. Ao fim de três anos de desrespeito sistemático pelos professores, com recurso a uma cantoria desafinada e ofensiva, os professores levantaram-se contra o playback das neocigarras, rejeitando-lhes o facilitismo, a falta de seriedade e a injustiça que as suas decisões e práticas representam.
Tudo indica que, mesmo alienada a viola e o saco, o ME não vai suspender este modelo de avaliação, pelo que apenas estará disponível para dispensar todos os professores de serem avaliados. Mas, suspender o modelo, nunca! Mera obstinação semântica.

3. Os pobres não vestem Armani!
Confrontado com os resultados falhados da sua governação, que a crise internacional já não permite maquilhar mais, temos observado um Primeiro-Ministro a refugiar-se em mera quinquilharia retórica e a reclamar méritos de que não é autor nem controla, como a descida das taxas da Euribor ou a baixa do preço dos combustíveis, ou ainda, a escorar-se no chavão que começa a concorrer com a “tranquilidade” de Paulo Bento, a saber, o inefável “absolutamente essencial” (que aplica, com igual medida e entoação, a tudo o que propõe ou promete).
Sócrates mostrou-se um político sem perfil para emprestar confiança e mobilizar todos os portugueses em tempo de crise profunda. É pretensioso, prestidigitador (começa a tornar-se ilusionismo de feira a forma descarada como esconde números, ilude previsões ou remete a dura realidade da maioria dos portugueses para o indizível e o demagógico) e insensível. Aliás, os últimos debates parlamentares têm mostrado um Primeiro-Ministro empedernido face às dificuldades dos portugueses mais pobres, não conseguindo disfarçar algum sarcasmo e semblante risível (mesmo que nervoso), sempre que é confrontado com os retratos mais negros da nossa realidade social e humana.
Trata-se de alguém que se dá ares de infalibilidade e que apenas se sente à-vontade quando se trata de acenar com ilusões de papas e bolos. Oxalá, desta vez, rareiem os tolos!... Pois, os pobres não vestem Armani, nem morrem de amores pelo BPP!

4. DGRHE associa-se ao negócio dos vírus e também aos jogos de sorte e de azar, viabilizando o “TOTOPROFESSORES”
Parece que os e-mails remetidos pela DGRHE aos professores, propagandeando os méritos desta avaliação do desempenho (embora, já ninguém saiba bem qual!), incorporam um vírus com capacidade para transpor a barreira do virtual e infiltrar-se e alojar-se nas mentes mais inseguras. O antídoto para o vírus resulta de uma combinação que reúne verticalidade, convicção racional e ética, pelo que a sua vulnerabilidade decorre do facto de o hospedeiro ser um professor determinado. É expectável que ninguém amoleça ou adoeça!

Depois da “LOTARIA DOS TITULARES”, O ME lança o “TOTOPROFESSORES”, procurando sortear contingentes de professores a serem dispensados da avaliação. Fala-se, por aí, que o próximo critério de selecção reportar-se-á a todos os professores que, na qualidade de avaliados, tenham idade superior a 50 anos e inferior a 52 e pertençam ao signo Sagitário.
Nunca lhes passou pela cabeça uma roleta, numa hora nobre de uma qualquer televisão?!...

5. Os professores chamam-lhe o “essencial”! A propósito, no ME, alguém já comeu fruta, hoje?
1. O modelo de avaliação é indissociável do ECD.
2. A divisão da carreira foi um acto inqualificável de leviandade e de desrespeito pelo currículo, experiência e empenho dos professores. Nenhuma pessoa ou instituição decente a pode defender.
3. O ME não está em condições de assegurar o mérito dos avaliadores (nem que sim, nem que não), uma vez que não aferiu as suas competências nem avaliou os seus desempenhos. Desta forma o ME retira seriedade e credibilidade ao processo de avaliação, fomentando a discórdia nas escolas. Os professores não estão disponíveis para "brincarem" às avaliações.
4. As quotas não se aplicam à docência, sendo susceptíveis de gerar injustiças e desmotivação entre os melhores. Substituam-nas, para os lugares de topo, por concursos públicos transparentes e credibilizados.
5. As escolas não visam a guarda e o entretenimento dos alunos. A componente fundamental da docência é a pedagógico-científica. Esta dimensão era marginal e, agora, é mesmo desavaliada por este modelo, pelo que esta encenação de avaliação apenas serve para incentivar o folclore e o pior do eduquês nas escolas.
6. Numa organização como a escola, estarem todos os professores, em simultâneo, a serem avaliados e a avaliarem é irracional, contraproducente e inexequível, pois esgota recursos e perturba o imprescindível investimento no processo de ensino-aprendizagem. O que faz sentido é a existência de uma equipa de avaliadores, proposta e reconhecida pelas escolas, que empreenda, nos anos em que não ocorra mudança de escalão, uma avaliação regular das componentes assiduidade, desempenho de cargos (se houver) e preparação pedagógico-científica, podendo, em casos sinalizados, ter uma actuação preventiva que assumiria, numa primeira instância, um acompanhamento formativo. No ano de progressão, o docente defende, publicamente, perante um júri (interno e externo), a sua prática docente, nas suas diversas componentes, investimentos e inovações.
Trata-se de um conjunto de princípios testados e que funcionam nos países europeus mais desenvolvidos, pelo que as obsessões controleiras injustificadas e os cabrestos economicistas, sem rigor e sem critério, apenas contribuirão para arruinar a escola pública.
Tudo o resto é tralha e banalidades. Aparência de fruta!...

Octávio V Gonçalves (PROmova)

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