domingo, 4 de janeiro de 2009

Por enquanto...

Recebido por e-mail, enviado pela autora:

Por enquanto a pistola era de plástico e foi uma brincadeira de mau gosto…

De novo um vídeo, colhido por telemóvel, simulando uma intimidação com uma arma de plástico e gestos hostis, mostra a violência sobre professores *.

A Directora Regional da Educação do Norte (DREN) considerou a ocorrência como “uma brincadeira de mau gosto”. A Associação de Pais mostrou-se mais indignada pelo filme do que pelo gesto e critica o telemóvel, “que não deveria ter entrado na escola”… O Procurador Geral da República mandou instaurar um inquérito …

Tais ocorrências levam-nos a uma reflexão…

Se olharmos para as últimas três décadas e para os sucessivos ministros da educação, exceptuando, a meu ver, Roberto Carneiro e Marçal Grilo, as medidas tomadas foram mais marcadas pela demagogia do que orientadas para a eficácia nas escolas. Perante a complexidade e a massificação do sistema educativo, a sua preocupação (deles, ministros…) foi o ensaio de contínuas reformas, decididas sem previsão de consequências nem garantia de meios, ridicularizadas pelas discrepâncias entre a grandiloquência dos objectivos e o miserabilismo das realizações. Propaladas como boas soluções, mais não foram do que o seu manifesto político (deles, ministros…) porque não passaram do papel e, as que foram um pouco mais longe, raramente se radicaram na escola e muito menos na sala de aula... Daí o estrondoso falhanço das reformas. Simultaneamente, é na Escola que os diferentes sistemas sociais exigem respostas. Aos docentes pede-se (exige-se) que ensinem mas que funcionem, ainda, como agentes na superação de um vasto conjunto de situações e conflitos. Concomitantemente, o facilitismo e a desvalorização da indisciplina em prol do sucesso educativo e do abandono escolar, a exigência do cumprimento das “boas estatísticas” europeias levam a que a Escola se sinta incapaz de projectar na sua prática as novas realidades com que se confronta.

Contudo, investir na Educação continua a não ser uma prioridade governativa. Antes pelo contrário. A preocupação tem sido reduzir o número de docentes, adiar, sucessivamente a colocação de outros técnicos (assistentes sociais, psicólogos, animadores socioculturais, entre outros **…) que, em equipa, poderiam intervir e ajudar a superar um vasto leque de problemas.

Mudar a face da Escola, vesti-la com roupagens mais apelativas e congruentes com a exigência e a diversidade actuais, confluir sinergias para um objectivo único de excelência educativa, equiparado ao que se exige, obsessivamente, numa atitude persecutória aos docentes e à avaliação do seu desempenho, deveria ser a PRIORIDADE MÁXIMA da equipa governativa, da sociedade em geral e de cada um de nós em particular.

Por enquanto a pistola era de plástico e foi uma brincadeira de mau gosto

* http://jn.sapo.pt/multimedia/video.aspx?content_id=1063111
**E os jovens qualificados, por aí andam, disponíveis, a maioria no desemprego, sem expectativas, e projectos de vida adiados, sucessivamente…”

(Artigo escrito por Maria do Céu Castelo-Branco, professora de Educação Especial, doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Aveiro, investigadora integrada no CIEC e conselheira na Associação Nacional de Professores - publicado no Jornal da Bairrada de 31 de Janeiro de 2008)

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