terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Relatório da OCDE...!?!

Auto-elogio, ou gabarolice como se diz na gíria

A expressão ímpeto reformista tem sido usada com frequência para se referirem ao governo de Sócrates, se bem que agora com menor frequência. No entanto, hoje volto a republicar um texto anterior, o que me leva a observar que a mudança poderá não passar da aparência.
Vem isto a propósito de mais um relatório da OCDE sobre a educação, oportunamente usado para propagandear a bondade do caminho de pedras que tem sido o rumo da educação socrática. E no entanto, como registou Paulo Guinote, vamos ver a autoria do documento e lá está o Ministério da Educação, no caso pela mão de Alexandre Ventura, presidente do Conselho Científico para a Avaliação de Professores.
Pois é, quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha? É aqui que entra um texto de Outubro de 2007:
Quinta-feira, 11 de Outubro de 2007
Education at a Glance 2007

Talvez já tenha o leitor pensado, como eu, de forma obtém a OCDE estes dados. Vem ao terreno fazer as suas próprias investigações? Tem sucursais? São-lhe fornecidos por outrem? É, no meu entender, uma questão pertinente, pois da confiança nestes dados resulta a validade das conclusões obtidas.
Ora este "Education at a Glance 2007" contém uma secção "Sources", onde que lê que as fontes para este relatório foram, no caso português:
* The Bureau for Information and Evaluation of the Education System,
* National Statistical Institute,
* The Financial Management Bureau,
* Science and Higher Education Observatory.

Ou seja, a respectiva proveniência é o Estado português. O que não deixa de ser curioso: a ministra da educação justificou todas as suas polémicas decisões com base nos dados publicados pela OCDE. Mas a OCDE apenas trata, compara e publica informação baseada nos dados fornecidos, no caso português, pela própria ministra. Um verdadeiro caso de pescadinha com rabo na boca e de nos interrogarmos seriamente sobre a ética de fazer política assim.

Quanto ao documento que agora tanto entusiasmou Sócrates, de onde vieram os dados? Basta consultar o respectivo anexo 2:
ANEXO 2: FONTES DOCUMENTAIS E INFORMAÇÃO DE ENQUADRAMENTO
A equipa beneficiou do acesso a um conjunto de documentos, incluindo:
  • Galvão, M.E. (Ed.) (2004). Desenvolvimento da Educação em Portugal. Ministério da Educação e Secretaria de Estado dos Assuntos Europeus e Relações Internacionais.
  • Ministério da Educação (2007). Educação e Formação em Portugal. Ministério da Educação, Portugal.
  • Ministério da Educação (2008). Medidas Políticas Implementadas no Primeiro Ciclo do Ensino Obrigatório em Portugal: Relatório Nacional. Ministério da Educação, Portugal.
  • Serrazina, M.L. (2008). Programa de Formação Contínua de Professores de Matemática: recompensas e desafios. Escola Superior de Educação de Lisboa.
  • Foram elaborados relatórios sobre a reorganização da rede escolar do primeiro ciclo em cada uma das cinco regiões, lavrados com objectivo da avaliação, e foram produzidos registos por alguns grupos de testemunhas entrevistados.
  • As informações e dados produzidos por todos os Serviços Centrais do ME, em particular, pelo
    GEPE e pela IGE, também se revelaram bastante valiosos.
E o leitor não acha este texto que acabo de escrever notavelmente excelente? Olhe que já foi gabado e aplaudido incondicionalmente (por mim).

in Blog Fliscorno

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