“Se queres conhecer o vilão, põe-lhe um volante na mão!”
[Adágio popular]
Alguns presidentes de conselho executivo — agora nomeados “directores” pela varinha de condão — estão a viver autênticos dias de plenitude profissional nunca antes experimentada. Pelos indícios externos, parece um estado de alma semelhante ao dos adolescentes que acabam de descobrir os segredos do sexo: uma certa lascívia no exercício constante da autoridade “patronal” está a manifestar-se num “quero, posso e desmando” que tem tanto de provinciano como de ridículo: parecem maestros de banda filarmónica, caminhando à frente da trupe, enquanto gesticulam abundantemente, de peito emproado como generais. Depois do 25 de Abril mais triste dos últimos trinta e quatro anos e do 1º de Maio mais sorumbático — e até com o seu quê de “retro”— parece que voltámos ao tempo do medo de falar e dos laconismos cínicos: “porque sim”; “porque eu decidi”; “porque tem de ser”; “estou apenas a cumprir ordens”. Mas… «não nos interroguemos sobre os nossos superiores, porque eles têm preocupações que nós nunca entenderemos», como já se dizia no tempo da senhora dona ditadura.
Alguns empossados, que nós, em tempos, elegemos, mas que hoje — sabendo o que sabemos — não elegeríamos de certeza, estão agora a saborear os aperitivos de um absolutismo que promete, um autoritarismo latente, que esperava apenas pela primeira oportunidade para desabrochar e eclodir. E aí está ele a rebentar, com este "Outono Socratista". Como aprendizes de feiticeiro com alguns truques de magia na varinha, eles estão a repetir os primeiros ensaios, testando a reacção dos seus subordinados, sentindo o prazer da obediência, a satisfação que pode proporcionar uma certa dose de arbitrariedade, o deleite com o medo que se instala. E medo é coisa que não falta aos professores deste país, acossados por todos os lados: toda uma sociedade, com a ministra da Educação e seus acólitos à cabeça, que demite os alunos e respectivos encarregados de educação das suas responsabilidades, atirando todo o ónus do nosso atraso sobre os professores, estigmatizando-os com o rótulo da preguiça e da incompetência. E medo é o que todos os docentes devem sentir com o sistema de avaliação, imposto com o único propósito de poupar dinheiro ao Estado: à custa daqueles que passarão sempre, nunca podendo passar da escolaridade mínima; à custa daqueles que passarão sempre os alunos, nunca atingindo o topo da carreira, nunca sendo respeitados — nem pela tutela, nem pelos alunos, que acabarão por culpá-los pelo seu fracasso, nem por esta casta de “colaboracionistas” , que se colaram como lapas a esta ministra de Educação coveira do ensino público, apoiando todas as suas reformas, mesmo aquelas que mais atentam contra a dignidade da classe docente. E alguns ousaram até ir muito mais além nesta devassa que é o sistema de avaliação: impondo prazos; fazendo aprovar documentos sem distribuição prévia para apreciação e eventuais correcções ou sugestões; ignorando lamentos e críticas dos seus subordinados (antigos colegas), a todos respondendo com um “já está aprovado e não se fala mais no assunto”; criando grelhas de observação e de registo de informação dignas dos “melhores” serviços secretos e a exigirem departamentos de contabilidade específicos — com T.O.C.’s e R.O.C.’s. Só não nos pedem a marca e o tamanho da roupa interior, pelo menos por enquanto! Enfim, estão a fazer o que fizeram alguns timorenses, quando foram invadidos pela Indonésia, o que fizeram alguns franceses quando foram ocupados pelas tropas nazis e o que fazem sempre todos os que têm roupas que podem ser vestidas do avesso: uns sentiram-se imediatamente indonésios, outros sentiram-se imediatamente alemães e outros sentiram-se imediatamente patrões dos colegas, determinados a extorquírem-lhes os “preciosos” números do “sucesso”. Embora eleitos pelos pares, já não os representam e nunca mais os vão representar. Transformaram-se na voz e nas garras deste regime “travesti”, de um diáfano e amaricado autoritarismo democrático, todo ele muito engomado, muito vincado e muito relativo, como convém.
Vislumbro apenas um pequeno senão neste “novo alinhamento”: os professores não se espremem como laranjas e a educação não acontece quando os docentes passam os seus dias apenas na esperança de acordarem deste pesadelo. Actualmente, há cerca de 45 mil professores nos “corredores da morte”, à espera de uma fatídica entrada no ensino, e 200 mil a viverem os seus dias «na esperança de um só dia»: o da saída, como quem espera, numa prisão, pelo fim da pena, arquitectando diariamente uma possibilidade de evasão, ainda que remota ou apenas para manter alguma sanidade mental. Nestas condições, a Escola tornar-se-á o inferno de uns e o purgatório de outros: purgatório de carências, de frustrações, de insatisfação e infelicidade social, de uma revolta crescente. E o futuro julgará aqueles que agora, com conhecimento do terreno, não contestam, não se indignam e até colaboram, como cangalheiros, neste funeral de direitos, liberdades e garantias. O futuro julgará aqueles que são agora “directores” apenas porque foram eleitos para representaram aqueles que agora tiranizam, escudando-se no dever de obediência e no receio da acção disciplinar. A demissão nem sempre é um sinal de fraqueza, de fuga às responsabilidades! Por vezes, pelo contrário, é manifestação evidente de verticalidade e de grandeza de carácter! Por vezes, quando se quer de verdade, quando se ama verdadeiramente o que se faz, é a última arma contra a prepotência e contra o aviltamento, a última bandeira da nossa dignidade!
Sei que muitos pensam como eu, mas quantos terão coragem de se juntar a este grito de indignação?
Post de Luís Costa, in Blog Dardomeu
[Adágio popular]
Alguns presidentes de conselho executivo — agora nomeados “directores” pela varinha de condão — estão a viver autênticos dias de plenitude profissional nunca antes experimentada. Pelos indícios externos, parece um estado de alma semelhante ao dos adolescentes que acabam de descobrir os segredos do sexo: uma certa lascívia no exercício constante da autoridade “patronal” está a manifestar-se num “quero, posso e desmando” que tem tanto de provinciano como de ridículo: parecem maestros de banda filarmónica, caminhando à frente da trupe, enquanto gesticulam abundantemente, de peito emproado como generais. Depois do 25 de Abril mais triste dos últimos trinta e quatro anos e do 1º de Maio mais sorumbático — e até com o seu quê de “retro”— parece que voltámos ao tempo do medo de falar e dos laconismos cínicos: “porque sim”; “porque eu decidi”; “porque tem de ser”; “estou apenas a cumprir ordens”. Mas… «não nos interroguemos sobre os nossos superiores, porque eles têm preocupações que nós nunca entenderemos», como já se dizia no tempo da senhora dona ditadura.
Alguns empossados, que nós, em tempos, elegemos, mas que hoje — sabendo o que sabemos — não elegeríamos de certeza, estão agora a saborear os aperitivos de um absolutismo que promete, um autoritarismo latente, que esperava apenas pela primeira oportunidade para desabrochar e eclodir. E aí está ele a rebentar, com este "Outono Socratista". Como aprendizes de feiticeiro com alguns truques de magia na varinha, eles estão a repetir os primeiros ensaios, testando a reacção dos seus subordinados, sentindo o prazer da obediência, a satisfação que pode proporcionar uma certa dose de arbitrariedade, o deleite com o medo que se instala. E medo é coisa que não falta aos professores deste país, acossados por todos os lados: toda uma sociedade, com a ministra da Educação e seus acólitos à cabeça, que demite os alunos e respectivos encarregados de educação das suas responsabilidades, atirando todo o ónus do nosso atraso sobre os professores, estigmatizando-os com o rótulo da preguiça e da incompetência. E medo é o que todos os docentes devem sentir com o sistema de avaliação, imposto com o único propósito de poupar dinheiro ao Estado: à custa daqueles que passarão sempre, nunca podendo passar da escolaridade mínima; à custa daqueles que passarão sempre os alunos, nunca atingindo o topo da carreira, nunca sendo respeitados — nem pela tutela, nem pelos alunos, que acabarão por culpá-los pelo seu fracasso, nem por esta casta de “colaboracionistas” , que se colaram como lapas a esta ministra de Educação coveira do ensino público, apoiando todas as suas reformas, mesmo aquelas que mais atentam contra a dignidade da classe docente. E alguns ousaram até ir muito mais além nesta devassa que é o sistema de avaliação: impondo prazos; fazendo aprovar documentos sem distribuição prévia para apreciação e eventuais correcções ou sugestões; ignorando lamentos e críticas dos seus subordinados (antigos colegas), a todos respondendo com um “já está aprovado e não se fala mais no assunto”; criando grelhas de observação e de registo de informação dignas dos “melhores” serviços secretos e a exigirem departamentos de contabilidade específicos — com T.O.C.’s e R.O.C.’s. Só não nos pedem a marca e o tamanho da roupa interior, pelo menos por enquanto! Enfim, estão a fazer o que fizeram alguns timorenses, quando foram invadidos pela Indonésia, o que fizeram alguns franceses quando foram ocupados pelas tropas nazis e o que fazem sempre todos os que têm roupas que podem ser vestidas do avesso: uns sentiram-se imediatamente indonésios, outros sentiram-se imediatamente alemães e outros sentiram-se imediatamente patrões dos colegas, determinados a extorquírem-lhes os “preciosos” números do “sucesso”. Embora eleitos pelos pares, já não os representam e nunca mais os vão representar. Transformaram-se na voz e nas garras deste regime “travesti”, de um diáfano e amaricado autoritarismo democrático, todo ele muito engomado, muito vincado e muito relativo, como convém.
Vislumbro apenas um pequeno senão neste “novo alinhamento”: os professores não se espremem como laranjas e a educação não acontece quando os docentes passam os seus dias apenas na esperança de acordarem deste pesadelo. Actualmente, há cerca de 45 mil professores nos “corredores da morte”, à espera de uma fatídica entrada no ensino, e 200 mil a viverem os seus dias «na esperança de um só dia»: o da saída, como quem espera, numa prisão, pelo fim da pena, arquitectando diariamente uma possibilidade de evasão, ainda que remota ou apenas para manter alguma sanidade mental. Nestas condições, a Escola tornar-se-á o inferno de uns e o purgatório de outros: purgatório de carências, de frustrações, de insatisfação e infelicidade social, de uma revolta crescente. E o futuro julgará aqueles que agora, com conhecimento do terreno, não contestam, não se indignam e até colaboram, como cangalheiros, neste funeral de direitos, liberdades e garantias. O futuro julgará aqueles que são agora “directores” apenas porque foram eleitos para representaram aqueles que agora tiranizam, escudando-se no dever de obediência e no receio da acção disciplinar. A demissão nem sempre é um sinal de fraqueza, de fuga às responsabilidades! Por vezes, pelo contrário, é manifestação evidente de verticalidade e de grandeza de carácter! Por vezes, quando se quer de verdade, quando se ama verdadeiramente o que se faz, é a última arma contra a prepotência e contra o aviltamento, a última bandeira da nossa dignidade!
Sei que muitos pensam como eu, mas quantos terão coragem de se juntar a este grito de indignação?
Post de Luís Costa, in Blog Dardomeu
1 comentário:
Não transcreveria tão bem o meu sentimento pessoal face à larga visão apresentada,à veracidade do presente e do futuro. Vivemos, realmente, um clima de frustração, procurando, de alguma forma, uma porta de saída. Ser Professor não é o que querem fazer de nós. Ser Professor é sentir o ar que se respira, é dar largas ao sonho e à realização dos mesmos junto dos nossos alunos. É dar-lhes asas para aprenderem a voar, a compreenderem o mundo que os rodeia e a integrarem-se nesse mesmo mundo, acreditando que podem acreditar nas suas competências e nas suas capacidades para contribuirem para a construção do País, sentindo-se parte integrante desse País, necessário às suas e às nossas capacidades de viver num mundo em que podemos acreditar. Aqui, não há nada para acreditar! Há uns remendos, mal engendrados que destroem, corroem e matam tudo o que quer viver, tal erva daninha.
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