A Conceição é professora (que triste ideia teve quando escolheu o seu ganha pão...) e dá aulas em Leiria. Assim, todos os dias, deixa a sua terra natal, nas cercanias de Coimbra, bem como o marido e o filho bebé, e dirige-se à bendita escola que lhe coube no concurso e que é uma das melhores na nossa cidade do Lis.
A Conceição é uma mulher aplicada, que adora dar aulas e da qual os colegas e professores nada têm de mal a dizer - é uma excelente professora, como muitos de nós...
Ontem a nossa Conceição estava uma lástima. O único irmão da sua mãe tinha falecido e ela, por ser professora de Ciências, com aulas desdobradas, não tinha conseguido trocar aulas, isto para além do facto de ter uma reunião de pais a que achava não dever faltar.
A Conceição sabia ainda que, se faltar, mesmo por luto, a sua avaliação terá resultados negativos, o que a fez pensar e a impediu de estar com a sua própria mãe a chorar o irmão e tio que perderam.
Que profissão é esta que não nos deixa sequer chorar os nossos mortos?
Que Ministério é este que nem sequer permite o direito ao luto aos seus professores sem os prejudicar?
Que Ministério é este que nem sequer permite o direito ao luto aos seus professores sem os prejudicar?
E que Homens e Mulheres somos todos nós, se aceitamos sem nos rebelarmos, esta e outras vergonhas que nos impuseram?
Hoje não é a Conceição que está de luto sozinha, são todos os professores que estão de luto e em luta, por todas as Conceições do nosso país e pelas suas famílias.
E, desta vez, quem não está connosco está contra nós...!
Há que erguer a cabeça e recordar a dignidade perdida por todo um grupo profissional. Há que mostrar a quem de direito o que nos vai na alma. Há que saber responder aos insultos, provocações e indignidade com tudo o de bom que temos dentro de nós...
Hoje é a Conceição que está de luto, sem o poder exteriorizar condignamente - e amanhã, quem nos chorará e vestirá de negro por nós e pela Escola Pública?
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