segunda-feira, 10 de março de 2008

Sobre Educação (Região de Leiria, 07.03.08)

Ainda a avaliação dos professores

Achei surpreendente a opinião do professor doutor Carlos André (C.A.) no texto “Avaliação de professores: equívocos de uma contestação”. Começa por reconhecer justiça a alguma da contestação dos professores (sem especificar qual), para afirmar, depois, que aqueles não têm razão em alguns aspectos, que especifica. Embora respeite, não esperava da parte de C.A. esta perspectiva. Porque, pegando nos seus argumentos, nunca ouvi um só professor discordar da existência da avaliação; nunca ouvi um só professor recusar que ela seja feita pelos seus pares (desde que com experiência e formação para tal). Quanto a querer que todos possam aceder ao topo, parece-me de elementar justiça que todos tenham essa hipótese, como C.A. teve. Já quando alega que passou parte da sua carreira com vínculo precário, C.A. sabe que se não tivesse vaga no ensino superior poderia facilmente vincular-se em qualquer escola secundária. Já a um professor do ensino básico e secundário sem vaga no sistema restam-lhe, normalmente, o Centro de Emprego ou os recibos verdes.Quanto à última alínea, com certeza que C.A. não acharia justo que a sua notável carreira fosse coarctada pelos maus resultados de alguns alunos, que levam oito anos a concluir uma licenciatura de quatro. Certamente C.A., docente dedicado e brilhante (como eu próprio testemunhei), acharia injusto. Mas é o que prevê este modelo de avaliação, com todo o ónus do insucesso, do absentismo e do abandono escolares a passarem para as escolas e para os professores. E o que opinaria C.A. se, após a interrupção lectiva de cerca de seis anos que legitimamente fez, deparasse com um concurso (como o de professor titular) que “contava” apenas os últimos sete anos da carreira? Uma injustiça, claro, face a todos os anos de dedicação ao ensino prestados anteriormente. Foi exactamente o que aconteceu a alguns milhares de professores competentíssimos. O texto de C.A. reflecte, afinal, o que se passa, neste momento a propósito das opiniões que vemos publicadas sobre o problema da Educação. Salvaguardando a liberdade que cada um tem para opinar sobre o assunto, parece-me exagerado o crédito ou projecção dados a quem sobre Educação sabe nada ou muito pouco. Não é, obviamente, o caso de C.A. Mas o mundo universitário fica lá tão no alto, tão longe das nossas escolas… Espero que, depois destes argumentos/desabafos, compreenda (e apoie!) um pouco mais as posições dos professores do ensino básico e secundário, preocupados com a defesa da escola pública.

Jorge Pereira


Ao meu camarada Carlos André


O respeito e consideração pelo professor Carlos André (C.A.) obrigam-me a expressar a minha surpresa pelo artigo que assinou no vosso jornal, dedicado à avaliação de professores. Surpresa não apenas pela discordância, mas sobretudo pela ligeireza, sobranceria e primarismo de abordagem que não esperava, tendo em conta o universitário e intelectual reconhecido. Tenho pena que o seu argumentário não se tenha elevado acima do lugar comum, num medíocre registo do politicamente correcto, para o cidadão com a sua relevância.Tal como ele, também eu sou professor. Não ouso comparar a minha carreira académica à sua! Mas enquanto professor não temo submeter-me a avaliação, quer profissional, quer académica. Portanto, não é o medo da avaliação que me move, com muita pena enquanto militante e autarca do PS, numa luta contra a política educativa do Governo do meu partido. Faço-o em razão da sua inexequibilidade técnica, contra a ilegalidade que a sustenta e na defesa da minha dignidade ético-deontológica. O modelo de escola pública do Governo PS é uma a impostura política, que ofende a matriz ideológica do partido. Não tem legitimidade para o impor à sociedade portuguesa sem um amplo consenso nacional. Neste modelo, a avaliação de professores é apenas um instrumento. Outros há, como o novo estatuto da carreira docente, a divisão artificial da carreira em titulares e não titulares, o estatuto do aluno e o novo modelo vertical de gestão não democrática. Dado o passado público de elevada responsabilidade nos cargos que ocupou, esperava do de C.A. maior rigor, maior objectividade e seriedade de opinião, no respeito pelos professores, muitos dos quais formados na universidade onde lecciona. Esperava ainda um correcto conhecimento técnico dos documentos em causa, para que a sua opinião fosse mais fundamentada. E acrescento: fica-lhe mal utilizar perante a opinião pública pretensos argumentos de autoridade, alicerçados na sua própria carreira, por muito brilhante que seja, tanto mais que até já exerceu cargos públicos onde o mérito talvez tenha sido o mais difícil de alcançar e concretizar. Enquanto militante do PS, o que me preocupa é a questão política subjacente a esta concepção de escola pública: uma concepção centrada na desorçamentação e desresponsabilização do Estado perante a sua obrigação social; a erradicação da “praxis” democrática interior da escola, quando esta deve ser, pelo seu exemplo pedagógico, expressão prática da democracia e da cidadania; preocupa-me ainda, como cidadão livre, democrata e socialista, que um socialista aceite que o actual modelo de avaliação imposto pelo Governo PS permita monstruosidades como esta, proposta numa escola de Leiria, ao pretender avaliar o professor aferindo se ele “Verbaliza a sua insatisfação/satisfação face a mudanças ocorridas no Sistema Educativo/na Escola através de críticas destrutivas potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares”. Não posso deixar de lembrar que, por motivos desta natureza, muitos cidadãos deste país, incluindo militantes socialistas, passaram pelas masmorras da PIDE.A isto não posso ficar indiferente e penso que nenhum socialista verdadeiro deveria ficar indiferente!E já agora reafirmo não ter medo da avaliação interpares, desde que sejam pelo menos tão qualificados quanto eu ou, se possível, ainda mais. E o que diria o meu camarada Carlos André, enquanto doutorado, se amanhã viesse a ser avaliado no seu desempenho académico por um licenciado? Também acharia legítimo?

Acácio Bárbara


A contestação dos professores

Considero os professores uma profissão de elevado estatuto e relevância social. Considero e pratico-o: como aluno, hoje quem muito admiro e estimo foram meus professores; como autarca, com aqueles que trabalhei oito anos na Marinha Grande e como pai, participando na vida da escola dos meus filhos, ajudando e apoiando sempre os seus profissionais. Isto não invalida que tenha, hoje, uma profunda discordância no combate que fazem às políticas do Ministério da Educação (ME). A crítica é legítima e o direito de manifestação inalienável, mas a escola é essencialmente um espaço de formação cultural, cívica e de cidadania das gerações que vão ajudar a construir um mundo melhor, mais tolerante e humanizado.E por isso não posso deixar de assinalar o que tenho assistido nos últimos dias: Um professor de Famalicão mente e insulta a ministra na televisão, para passado uma semana lhe pedir desculpas públicas; um dirigente sindical, que quando a ministra impôs as aulas de substituição veio dizer que era uma medida de ataque à classe porque os professores faltavam pouco, vem agora reivindicar milhões e milhões de euros para pagar os que substituíram os colegas que faltaram. A escola é, pois, muito mais que as reivindicações de uma classe. Por isso é de saudar a Confederação Nacional de Pais que veio dar total apoio às políticas do ME. A escola como organização e como produtora de resultados formativos está hoje muito melhor do que estava e ninguém como os pais para sentirem isso bem de perto. É bom lembrá-lo para que tudo não fique pela espuma da contestação.

João Paulo Pedrosa (Presidente da Federação distrital de Leiria do PS e Chefe de Gabinete de S. Exª, Sr. Governador Civil de Leiria)

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