domingo, 24 de fevereiro de 2008

Algumas considerações sobre a nossa Reunião

Ontem foi um dia memorável para quem participou e preparou a Reunião de Leiria. Muitos venceram o medo e desânimo e atreveram-se a falar. Muitos deitaram para fora a revolta que lhes roi o interior há muito tempo. Foi uma festa, triste embora, mas uma festa. Teve momentos divertidos (a catarse começa por vezes pelo riso) como aquele momento em que a colega Carmelinda Pereira, animada com o momento, quase usava a expressão "camaradas" quando queria dizer colegas. Foi engraçado ver os professores rirem das maldades que querem fazer à sua profissão e ao seu local trabalho. Foi giro ver caras conhecidas numa Televisão que ainda não foi vergada pelo Poder. Foi interessante ver que as pessoas estão sedentas de luta, de verdade e unidade, mesmo que isso implique sacrifício. Foi apenas um começo, mas até os adamastores da floresta foram um dia pequenos polegarzinhos, enfezados e indefesos.

Roubemos o poema e grito do poeta Gedeão, nosso irmão e mestre nestas coisas de ensinar, para aprender para onde ir com o nosso movimento cívico...

Poema das árvores


As árvores crescem sós. E a sós florescem.

Começam por ser nada. Pouco a pouco
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.

Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.

Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos dão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.

E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.

Os animais são outra coisa.
Contactam-se, penetram-se, trespassam-se,
fazem amor e ódio, e vão à vida
como se nada fosse.

As árvores, não.
Solitárias, as árvores,
exauram terra e sol silenciosamente.
Não pensam, não suspiram, não se queixam.
Estendem os braços como se implorassem;
com o vento soltam ais como se suspirassem;
e gemem, mas a queixa não é sua.

Sós, sempre sós.
Nas planícies, nos montes, nas florestas,
a crescer e a florir sem consciência.

Virtude vegetal viver a sós
E entretanto dar flores.

in Novos Poemas Póstumos, António Gedeão

1 comentário:

Ana Narciso disse...

Tal como disse na reunião no teatro José Lúcio da Silva parece-me que é tempo agir e não só de reagir. Ficou claro que não haverá consenso sobre o modelo que queremos e o que nos une é apenas um sentimento de rejeição. Do meu ponto de vista é pouco. É tempo de sermos nós a liderar a mudança, porque de diagnósticos estou um pouco farta. A moção não é mais do que isso; um diagnóstico sem alternativas para ser lido(?) na Assembleia da República. Assim não vamos lá. Parece-me que é público e notório que as petições têm valor negativo na AR. Ficamos satisfeitos com a leitura de uma moção que não se sabe nem quando nem como vai ser agendada?Parece-me pouco e pouco ambicioso.Assim não vamos lá.Como não vamos lá com o surgimento de outros movimentos paralelos falando já em federação de associações de movimentos cívicos. Dividir para reinar , é uma fórmula que sempre deu resultados a quem governa. Não aprendemos nada com a nossa história ou com a história de outros. A defesa de uma escola pública de massas e de qualidade passa pela avaliação de todos: alunos, professores e funcionários. Como? É a questão que ao fim de trinta anos de poder democrático. nos devia unir e não desunir.