sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A Luta Continua...

Todos os dias ouvimos os mesmos lamentos - na escola, em casa, na rua, do vizinho, do aluno, do encarregado de educação, da nossa própria insónia. Parecemos funâmbulos ou autómatos rumo ao abismo em velocidade de cruzeiro, levando connosco a nossa vida, a nossa família e a nossa escola.

Há que parar para pensar, unir esforços e não calar o que nos vai na alma. Há que fazer jorrar a indignação, a revolta e frustração que nos estão a roer por dentro.

Há que participar em todas as iniciativas em defesa na Escola Pública e da dignidade da Docência. Seja eu docente, discente, funcionário da escola, pai, mãe ou encarregado de educação.

Assim, amanhã, na Reunião de 23.02.2008, pelas 15.00 horas no Auditório da Caixa de Crédito Agrícola de Leiria, temos de ser muitos e temos de mostrar o que sentimos e porque o sentimos - há quebrar estas cadeias de medo que nos querem impor...!


Roubemos as palavras de um poeta para perceber o que vamos fazer amanhã...

Canto e lamentação na cidade ocupada (2)

Com ternura crescente, insone, canto.
Com simples flores de angústias,
canto.
Em termos de revolta, crise, sonho,
ergo, à mesa do café vazio e enorme,
meu sonho de viagem sem regresso.
Para enganar a solidão, o medo,
digo palavras, música, esperança.

Canto porque estou vivo e amarrado
à condição de ser fiel e agreste.
Porque em vão nos destroem a memória
com máquinas, rodízios, honorários.
Porque o sol torna fulvo o teu cabelo
e apetecem meus lábios os teus seios.

Canto para espantar o espectro indefinido
da besta apocalíptica, medonha.
Canto e louvo o teu sonho, amigo anónimo,
suando e trabalhando, algures oculto.

Canto a tua coragem, general,
confinado na prática e fora dela.
Canto como quem morde, ofende, esmaga
e, exausto, resiste e sobrevive.

Canto para saber que vale a pena
ter voz, músculos, nervos, coração.
À mesa do café, nas ruas, canto.
Nos jardins, nos estádios, sofro e canto.
No quarto abandonado, sonho e canto.
Nos pequenos cinemas, rio e canto.
Entre teus braços doces, choro e canto.

Descerro a aurora com palavras graves,
cantando. Reinvento a melodia,
o sol aberto, o amor pelas esquinas,
a marca sensual nos ombros nus,
a memória da infância, a tua face
— e canto.
Inutilmente embora,
canto.

in A Invenção do Amor e outros poemas, Daniel Filipe

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