Para comodidade e poupança de tempo (hoje é dia de horário misto) vou tentar as ideias de forma sintética.
- A Jornalista - perante a lista de convidados parecia que a coisa até seria imparcial, mas depois, logo a abrir a refrega percebeu-se que Fátima Campos Ferreira tinha muitos adjectivos e outros qualificativos simpáticos para distribuir pela Ministra. Se eu quisesse que me chamassem machista diria que FCF vê, de forma solidária, em MLR uma Ministra-Mulher, corajosa, reformista, porventura revolucionária (já foi,já foi…. em outra encarnação). Deu-lhe sempre a mão para ela sair de situações menos fáceis e não se sentir quase só perante a multidão. Deu muito a palavra a Arsélio Martins que a tomou para falar imenso, mas a partir de certa altura sem rumo no discurso, amontoando ideias boas com platitudes e muita evocação do seu passado. Justificou-se FCF com mails chegados à redacção. Quando as palmas inclinaram para um dos lados, pediu para que parassem. Classificação 3/10.
- A Ministra - desempenho bem acima da média em termos anímicos e políticos. Conseguiu, no plano da retórica, conter alguns ataques. Em termos técnicos continua muito fraca, pois só fala em fórmulas vagas para se refugiar. Em um ou dois momentos foi levada quase às cordas pela Fernanda Velez. Ia-se irritando uma ou duas vezes e foi mal-educada nessas situações, ao tentar achincalhar os adversários, cometendo o pecado de caricatura que costuma apontar aos outros. Nota-se que lhe deram ordens para se conter. O tom, muito vivo do baton não era a melhor mas faz-me acreditar que correspondia ao estado de alma da Ministra. Um bocado em sangue. Classificação 6,5/10. Olhem como sou generoso. Mas é que nem precisou que o Valter Lemos viesse em sua defesa.
- Os Professores - neste caso, os professores em nome individual. Excelente a Fernanda Velez, com a dose de indignação indispensável, concreta, sem se perder e só faltando mais tempo para desenvolver alguns temas. Boa noção do tempo mediático de uma exposição. Fez-me ter orgulho numa ex-colega de Secundária provisória do deserto; 8,5/10. Ludgero Leote bem inicialmente, mas depois a perder fôlego quando se tratou do tema da gestão escolar. Articulado. 7,5/10. Quanto a Arsélio Martins começou bem, mas depois a perder por completo o rumo, apesar de ter seduzido claramente FCF em busca de um figura paternal. Com o tempo que falou podia ter dito muito mais coisas, em vez de evocar idas à Noruega e eleições ganhas e perdidas. 5,5/10.
- O Especialista - uma enorme desilusão. João Formosinho embaralhou-se, deu a noção de não perceber do que se falava. Puxava a conversa para campos sem interesse directo. Só queria dar a entender que já pensa e discute estes assuntos há muito tempo. Se for assim a dar aulas, a minha simpatia para os seus alunos. Anestesiante. 3/10.
- Os Sindicatos - na 1ª linha dos assistentes com pouco tempo para falar. Mário Nogueira e Dias da Silva fizeram o possível por passar a mensagem. Fizeram-no bem, mas quase sem espaço. 7/10 para os dois.
- O Ensino Privado - intervenção admiravelmente honesta. Tão honesta que quase não teve tempo para falar; 8/10.
- O Conselho de Escolas - irrelevante. Afinal na SIC-Notícias não tinha sido falta de treino. É mesmo uma certa falta de sal e pimenta. 3/10.
- Os Movimentos - intervenções algo desequilibradas. Melhor o PROmova mas, como de costume, a começar bem e depois a ficar sem um rumo claro; 6/10. Pior o dos Professores Revoltados, sem liderança assumida e uma intervenção que começou prudente mas depois espalhou-se por completo ao virar a conversa para a avaliação dos alunos; 4/10. A outra colega Anabela teria feito melhor em não ter tentado começar um banzé quase a acabar o programa, desculpe-me lá; fez aquilo que menos nos fazia falta e acabaram a desligar-lhe o microfone enquanto gritava pela sala; 3/10.
- Os Pais - Albino Almeida camaleónico, a mostrar uma liderança forte, a assumir-se o maior amigo dos sindicalistas; compungido com os pobrezinhos, coitadinhos, tão burrinhos. Ia conseguindo sair bem visto quando cometeu dois erros crassos: agarrou no microfone e quis ser ele a dar o mote para o debate («temos de sair daqui com uma conclusão») e foi profundamente infeliz ao evocar Salazar quando alguém apresentou uma ideia diferente da sua. O verniz estalou e mostrou o que estava a ficar tapado pela camuflagem. A mim não me engana. 4/10.
- O Autarca - ali solitário em nome da classe política. Muito feliz consigo mesmo. Óptimo. Parece que nunca ouviu falar em clientelismo nas câmaras. Se não fosse esse ataque de miopia valeria mais. 6,5/10.
E acho que cobri os principais protagonistas.
Quanto à substância, ficou muito por abordar. Nomeadamente a demonstração da teia burocrática do sucesso, a péssima calendarização do processo legislativo e o facto de, algures onde estes sistemas nasceram, levarem anos em implementação. Como na Finlândia desejada.
Em relação ao modelo de gestão, explorar melhor os relatórios da IGE que são, por regra, extremamente elogiosos para a gestão das escolas avaliadas. E faltou demonstrar a cadeia de comando que diminui efectivamente a autonomia do trabalho de 95% dos docentes, em troca do reforço do poder de uma escassa minoria.
Mas apesar da extensão do programa, era difícil melhor. A palavra até foi dada a muita gente, ao contrário do habitual. O lado negativo é que é muito difícil manter uma troca articulada de argumentos desta forma.
1 comentário:
O grande falhanço deste tipo de debates é que geralmente só entende algua coisa quem está muito dentro das questões - o grande público não entende onde fica,afinal, o busílis da questão. Acredito mais nos movimentos cívicos, nomeadamente o de Leiria, que ali não esteve representa
do.Acho que a ministra saiu esfrangalhada, a levar pancada de todos-de uns mais,de outros menos.E sem saber como irá dar a volta ao texto...E isto apesar de lhe ter sido dada a última palavra.Quanto à FCampos Ferreira é uma yes minister ou uma das várias pessoas que incluo no his master's voice.Faltou dizer á ministra que, enquanto 42%parecem confiar nos professores, só 5% confiam nos políticos...
Enviar um comentário