segunda-feira, 28 de abril de 2008

Indisciplina é oriunda de todos os meios sociais

Os casos de indisciplina em ambiente escolar podem ser reduzidos caso as escolas saibam diagnosticar a origem do comportamento inadequado e ir ao encontro das crianças mais problemáticas. Para João Amado,investigador em Ciências da Educação na Universidade de Coimbra, não é justo pensar que a indisciplina afecta, apenas, escolas inseridas em ambientes sociais desprotegidos. "Independentemente dos ambientes sociais de onde provêm os alunos, a escola pode ser um meio problemático se não houver uma boa gestão e um bom relacionamento dos professores com os alunos", defendeu.

Para aquele professor universitário, os factores sociais têm grande influência no comportamento dos alunos e, por isso, não se lhes pode deixar de atribuir importância. "Em escolas inseridas em bairros sociais onde se verificam mais problemas, há a necessidade de conhecer bem as motivações dos jovens e procurar atender às suas necessidades", salientou.

João Amado explica que, em ambientes sociais menos favorecidos, há muitos famílias com grandes instabilidades financeiras e culturais, o que acaba por se reflectir na escola. "Nesses casos, a escola tem de lhes oferecer currículos alternativos ao ensino regular, de preferência com uma formação profissional que os prepare para a vida após a escolaridade básica", referiu.

Contudo, João Amado fez notar que os casos de indisciplina também existem em escolas inseridas em meios sociais favoráveis, em crianças e adolescentes oriundos de famílias das classes média e alta.

"Normalmente, são miúdos oriundos de contextos familiares onde há falta de autoridade, alguma desorientação e uma má gestão das relações entre mãe e pai. Tudo isto acaba por se reflectir na vida dos filhos", explicou.

"Quer sejam oriundos de bairros sociais, quer de ambientes mais favorecidos, para estes miúdos a escola não é um sítio agradável. É sobretudo um lugar onde demonstram grandes dificuldades de relacionamento com os professores", disse.

Três tipos de professores

João Amado refere casos de jovens que ao longo da história de vida começam uma má relação com a escola. "É algo que vai surgindo na maneira de estarem em relação à escola, aos professores e aos colegas e que, por vezes, os deixa traumatizados", realçou. E deixa um exemplo, o caso de uma criança que reprova no 1.º ciclo do Ensino Básico. "Por vezes, o insucesso no início da escolaridade pode ser o princípio de uma má relação com a escola", explicou ao JN.

Mais ainda, para João Amado a indisciplina na escola pode, também, ter por base a própria atitude do professor, a forma como ele se relaciona com a turma. "Há muitos motivos pelos quais os professores podem ser a origem da indisciplina na sala de aula. Normalmente, são aqueles que não são capazes de mostrar às crianças e adolescentes que existe um conjunto de regras que devem ser cumpridas", referiu.

Para aquele investigador, há três tipos de professores os autoritários ("aqueles que impõem as regras, mas de uma forma autoritária), os muito permissivos ("os docentes que, por uma questão de personalidade, têm muita dificuldade em fazer entender que há regras a respeitar numa sala de aula, e por isso, permitem que os alunos façam tudo") e os que sabem agir correctamente ("aqueles que sabem fazer respeitar as regras da sala de aula, sem impor, mas explicando e dialogando com os alunos"). Para João Amado, é destes últimos que os alunos gostam, porque conseguem dialogar com eles na base do respeito mútuo.

"Os professores que não conseguem manter as regras e, por isso, não conseguem ensinar, não conseguem fazer aprender e acabam por criar um mal-estar na sala de aula, além de não se sentirem bem também", sublinhou.

Neste passo, chama a atenção para a importância da formação inicial dos professores. O investigador tem acompanhado muitos estagiários das escolas superiores de educação e sabe que, no currículo dos cursos, falta a preparação para a boa gestão de uma sala de aula.

Formação precisa-se

"Os cursos têm disciplinas muito teóricas e os currículos esquecem esta dimensão que é fundamental", referiu. "Não raro, os meus alunos referem exactamente isso, que ao longo do curso não são preparados para saber lidar com o comportamento dos alunos numa sala de aula".

Para João Amado, a questão da boa gestão do espaço da sala de aula deveria de fazer parte da própria formação contínua dos professores. "Nem seria necessário realizar acções de formação formais, mas apenas encontros de reflexão sobre este tema", defendeu o o investigador.

"Em todas as escolas há sempre professores com dificuldades de gerir os comportamentos dos alunos. Assim, cabe à escola identificar esta dificuldade e promover encontros de professores, onde os mais experientes pudessem orientar os mais novos", explicou.

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