domingo, 20 de abril de 2008

Um, Ninguém E Cem Mil

Post roubado, com a devida vénia, ao Blog A Educação do meu Umbigo:


Um dos motes mais usados nos últimos tempos quando se discute a situação da Educação passa pela evocação da manifestação dos «100.000» em Lisboa no dia 8 de Março.

Muitos não esperavam tamanha união. Muitos emocionaram-se ao sentirem os outros 99.999 ali ao redor. Muitos acharam que era possível mudar o mundo a partir dali. Muitos foram ingénuos.

Acho que não estarei a ser demasiado cínico se disser que, por histórica e emocionante que tenha sido, alguns de nós estavam plenamente conscientes que os resultados visíveis não poderiam ser imediatos, atendendo às circunstâncias particulares em que vivemos.

Antes de mais porque, para o bem e para o mal, num regime democrático consolidado - o nosso sê-lo-á? - uma manifestação é uma manifestação, por enorme que seja, por muito que tenhamos querido que ela acontecesse e fosse assim e que tivessemos passado uma das mais inesquecíveis tardes das nossas vidas.

Só que perante uma manifestação grandiosa, mesmo em democracia, as políticas não mudam de um dia para o outro. Podiam ter sido 50.000, 70.000 ou 120.000. O sucesso e o impacto teriam sido sempre grandes mas perante um governo democraticamente eleito - sim, eu sei que estou hoje muito lírico - não há qualquer obrigação formal de mudar uma política, despedir uma ministra ou ir embora e bater com a porta.

As coisas não funcionam assim de forma tão automática, o poder não cai na rua com uma manifestação daquelas. Apenas abana. Estremece. Aguenta-se melhor ou pior. Mas não cai.

Há que perceber isso.

Perceber que tão importante como o abalo propriamente dito é o receio das réplicas e outras sequelas. O receio que a agitação continue, que a instabilidade se enraíze.

E foi isso que, em parte, aconteceu.

Terminada a manifestação, apressaram-se os defensores da «boa ordem democrática» a declarar que, pronto!, para além daquilo mais nada haveria a esperar dos professores e que aquele tinha sido o apogeu da sua contestação e que não existia plano B.

E durante algum tempo assim pareceu.

O problema é que, existindo ou não um plano B geral, percebeu-se também com uma certa rapidez que a larga maioria das escolas e dos docentes estava a funcionar numa situação de extrema saturação e que se corria o risco de uma implosão disseminada de todo o sistema.

A força dos 100.000 todos juntos tinha-se transformado num potencial rastilho ateado por 100.000 insatisfações individuais.

E foi isso que o entendimento tentou travar.

De certa forma não é incorrecto dizer que, bem ou mal, um dos efeitos práticos foi mesmo salvar o 3º período de uma situação potencialmente catastrófica para o funcionamento das escolas.

Mas, pelo que me parece, o problema apenas terá sido adiado para o próximo ano lectivo.

Porque os 100.000, com ou sem um plano B comum, andam por aí e não estão minimamente satisfeitos com a solução alcançada, mesmo que provisória.

E o ano de 2008/09 promete ser tão ou mais agitado do que tem sido este. O ME e os sindicatos precisam de perceber isso. E há rastilhos um pouco por todo o lado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Colega, já estou com o isqueiro, fósforos, maçarico e tudo o mais que seja altamente inflamável à mão.
Se puder escolher incendeio primeiro os sindicatos e só depois a sinistra
milones